O SINTOMA SOB O PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO
Para a fenomenologia:
Sintoma: manifestação de sofrimento e dor. É um indício de restrição das possibilidades de ser.
A medida desta restrição e os sentidos do sintoma são fornecidos pelo próprio indivíduo, através de uma compreensão da totalidade de sua existência.
Este é o ponto de partida para a compreensão do lugar do sofrimento para o indivíduo.
A compreensão, o aproximar-se do lugar do paciente, permite ao terapeuta acompanhar o indivíduo na construção de novas possibilidades de ser.
Um pouco sobre mim e sobre o meu trabalho. Eventualmente pretendo postar textos com minhas reflexões. Seja bem vindo!
HOTU
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
São Paulo, 29 de Agosto de 2009
Trabalho de conclusão das reuniões clínicas da Psicoblue do primeiro semestre
Ao refletir sobre a postura do terapeuta no contexto clínico, me surgiu a cabeça uma pergunta anterior a esta: o que é psicoterapia? Aparentemente simples, e por mim tomada muitas vezes intuitivamente como já sabida, essa pergunta me apareceu muito mais complexa, a medida que meditava cada vez mais sobre ela. Parte da minha dificuldade acredito vem justamente de um desejo por encontrar uma resposta definitiva a respeito de algo que não se enquadra em uma definição única e definitiva. Ao relembrar meus atendimentos, tentei encontrar algum “pano de fundo” essencial, que unisse coerentemente as minhas ações e as respostas dos meus pacientes, mas o que insistia em aparecer para mim foram as diferenças que vivi em cada encontro com estas pessoas, minhas e deles, eles por um lado se aproximando da experiência terapêutica a seu modo, e eu do meu. Fico pensando se eu tivesse me portado de uma certa maneira com todos, talvez não tivesse conseguido escutar as particularidades das demandas desses pacientes, nem conseguido me aproximar do meu modo próprio de me colocar diante deles, nos meus processos de erros e acertos, para mim tão dramáticos e tão especiais ao mesmo tempo.
Mas ao mesmo tempo, reconheço que exerci, em maior ou menor medida (e isto é importante frisar) uma certa abertura para que encontro acontecesse, que neste sentido foram posturas minhas mais e menos disponíveis àquilo que chegava a mim do meu paciente, e também porque não encontrei e não encontro em mim um modelo ou uma forma exata de como deveriam ter sido estes encontros. Eles se deram, de alguma maneira. Isso me lembra o atendimento de uma paciente, e seu sentimento diante de mim (e que acredito se estende em maior ou menor medida a todos os pacientes, por causa do peso de meu “lugar de terapeuta”, daquele que “sabe”). Ela algumas vezes me disse que gostava de vir a terapia, porque ela se sentia a vontade de ser quem ela era, diferente de como se sentia fora da terapia, onde seu modo de ser era percebido por ela e pelos outros como sendo “chato”, “inadequado”, “errôneo”. Mas ao mesmo tempo, e a partir desta sua fala, percebi nela uma certa aflição com o que eu poderia pensar dela, se em algum momento eu lhe diria que encontrei algo inadequado nela, errôneo e que deflagaria sua “loucura”, sua impossibilidade de existir daquela forma, sua cegueira a respeito de seu modo de ser que somente eu poderia dizer, por ser “terapeuta”. Mas, ela também sabe que a partir do momento em que fizesse isto, que lhe dissesse que via algo nela que ela não via, que decifrei algo dela, algo estaria escapando, que eu não estaria realmente “dentro” de sua experiência para poder definir seus passos com uma conclusão, que eu estaria decretando um “fechamento” de algo que se dá, que é enquanto questão para ela.
Conversamos sobre esta questão que ela me trouxe veladamente, e pudemos ir descortinando seus medos, seus receios diante do mundo, sua angústia de não conseguir deixar de ser como ela é, mas ao mesmo tempo reconhecendo a dificuldade em comunicar-se com o mundo a partir desse jeito dela. Ela foi podendo ir descobrindo como, ao assumir a dificuldade (e não a partir de uma conclusão dada e definitiva ), que em primeiro lugar relacionar-se não é algo fácil e dado, exige um colocar-se, e como ela poderia ir se colocando de um modo em que sua comunicação pudesse ir se dando, a partir de suas possibilidades, e enxergando algumas mudanças. Ela viveu comigo este abrir-se dela para mim, que reverberou em seu modo de ser com os outros, ao perceber que ele era possível. Em última instância, que seu modo de ser era possível, não sem dificuldade, mas era possível. Penso agora um pouco sobre a minha postura de terapeuta. Eu me abrir a partir das minhas possibilidades, e ela a partir das suas gerou um “conforto” mútuo no nosso relacionar-se, que permitiu que ela se abrisse cada vez mais comigo, e eu com ela, para que tanto eu quanto ela pudéssemos nos colocar. Na verdade, estávamos vivendo “clinicamente”, aquilo que a afligia e era a sua questão, e com isso vivendo uma abertura mútua.
Talvez este seja um dos corolários da minha experiência terapêutica: Preservar este abrir-se para si mesmo, sem uma orientação a priori a respeito de como devo me colocar (porque deste paciente nada sei), buscando um espaço para a comunicação, a partir das possibilidades do paciente, reconhecendo as minhas dificuldades e do paciente nesse processo difícil que é relacionar-se. É um constante esclarecer o que me vem ao encontro, de mim, para mim e a ele, para que ele possa ir experimentando e sustentando esta abertura, comigo e com o mundo, e eu enquanto terapeuta dele e de outros que virão.
Obs: Este meu abrir-se para mim, certamente, e igualmente como foi vivido pela minha paciente, foi podendo se sustentar com a ajuda de meu supervisor e meu terapeuta, (com as minhas leituras!) e com o meu relacionamento com o mundo.
Trabalho de conclusão das reuniões clínicas da Psicoblue do primeiro semestre
Ao refletir sobre a postura do terapeuta no contexto clínico, me surgiu a cabeça uma pergunta anterior a esta: o que é psicoterapia? Aparentemente simples, e por mim tomada muitas vezes intuitivamente como já sabida, essa pergunta me apareceu muito mais complexa, a medida que meditava cada vez mais sobre ela. Parte da minha dificuldade acredito vem justamente de um desejo por encontrar uma resposta definitiva a respeito de algo que não se enquadra em uma definição única e definitiva. Ao relembrar meus atendimentos, tentei encontrar algum “pano de fundo” essencial, que unisse coerentemente as minhas ações e as respostas dos meus pacientes, mas o que insistia em aparecer para mim foram as diferenças que vivi em cada encontro com estas pessoas, minhas e deles, eles por um lado se aproximando da experiência terapêutica a seu modo, e eu do meu. Fico pensando se eu tivesse me portado de uma certa maneira com todos, talvez não tivesse conseguido escutar as particularidades das demandas desses pacientes, nem conseguido me aproximar do meu modo próprio de me colocar diante deles, nos meus processos de erros e acertos, para mim tão dramáticos e tão especiais ao mesmo tempo.
Mas ao mesmo tempo, reconheço que exerci, em maior ou menor medida (e isto é importante frisar) uma certa abertura para que encontro acontecesse, que neste sentido foram posturas minhas mais e menos disponíveis àquilo que chegava a mim do meu paciente, e também porque não encontrei e não encontro em mim um modelo ou uma forma exata de como deveriam ter sido estes encontros. Eles se deram, de alguma maneira. Isso me lembra o atendimento de uma paciente, e seu sentimento diante de mim (e que acredito se estende em maior ou menor medida a todos os pacientes, por causa do peso de meu “lugar de terapeuta”, daquele que “sabe”). Ela algumas vezes me disse que gostava de vir a terapia, porque ela se sentia a vontade de ser quem ela era, diferente de como se sentia fora da terapia, onde seu modo de ser era percebido por ela e pelos outros como sendo “chato”, “inadequado”, “errôneo”. Mas ao mesmo tempo, e a partir desta sua fala, percebi nela uma certa aflição com o que eu poderia pensar dela, se em algum momento eu lhe diria que encontrei algo inadequado nela, errôneo e que deflagaria sua “loucura”, sua impossibilidade de existir daquela forma, sua cegueira a respeito de seu modo de ser que somente eu poderia dizer, por ser “terapeuta”. Mas, ela também sabe que a partir do momento em que fizesse isto, que lhe dissesse que via algo nela que ela não via, que decifrei algo dela, algo estaria escapando, que eu não estaria realmente “dentro” de sua experiência para poder definir seus passos com uma conclusão, que eu estaria decretando um “fechamento” de algo que se dá, que é enquanto questão para ela.
Conversamos sobre esta questão que ela me trouxe veladamente, e pudemos ir descortinando seus medos, seus receios diante do mundo, sua angústia de não conseguir deixar de ser como ela é, mas ao mesmo tempo reconhecendo a dificuldade em comunicar-se com o mundo a partir desse jeito dela. Ela foi podendo ir descobrindo como, ao assumir a dificuldade (e não a partir de uma conclusão dada e definitiva ), que em primeiro lugar relacionar-se não é algo fácil e dado, exige um colocar-se, e como ela poderia ir se colocando de um modo em que sua comunicação pudesse ir se dando, a partir de suas possibilidades, e enxergando algumas mudanças. Ela viveu comigo este abrir-se dela para mim, que reverberou em seu modo de ser com os outros, ao perceber que ele era possível. Em última instância, que seu modo de ser era possível, não sem dificuldade, mas era possível. Penso agora um pouco sobre a minha postura de terapeuta. Eu me abrir a partir das minhas possibilidades, e ela a partir das suas gerou um “conforto” mútuo no nosso relacionar-se, que permitiu que ela se abrisse cada vez mais comigo, e eu com ela, para que tanto eu quanto ela pudéssemos nos colocar. Na verdade, estávamos vivendo “clinicamente”, aquilo que a afligia e era a sua questão, e com isso vivendo uma abertura mútua.
Talvez este seja um dos corolários da minha experiência terapêutica: Preservar este abrir-se para si mesmo, sem uma orientação a priori a respeito de como devo me colocar (porque deste paciente nada sei), buscando um espaço para a comunicação, a partir das possibilidades do paciente, reconhecendo as minhas dificuldades e do paciente nesse processo difícil que é relacionar-se. É um constante esclarecer o que me vem ao encontro, de mim, para mim e a ele, para que ele possa ir experimentando e sustentando esta abertura, comigo e com o mundo, e eu enquanto terapeuta dele e de outros que virão.
Obs: Este meu abrir-se para mim, certamente, e igualmente como foi vivido pela minha paciente, foi podendo se sustentar com a ajuda de meu supervisor e meu terapeuta, (com as minhas leituras!) e com o meu relacionamento com o mundo.
Endereço consultório
Clínica psicológica
Rua Aimberé, 1731
Sumarezinho (próximo ao metrô Vl. Madalena)
Telefones:
3865-7557 (recado na secretária eletrônica)
9966-2314 (celular)
Rua Aimberé, 1731
Sumarezinho (próximo ao metrô Vl. Madalena)
Telefones:
3865-7557 (recado na secretária eletrônica)
9966-2314 (celular)
Atendimento domiciliar
Realizo atendimentos psicológicos e de apoio emocional em domicílio também.
Na minha experiência no trabalho com mulheres no pós parto, o atendimento domiciliar é muitas vezes a única forma de levar adiante este apoio por conta da dificuldade de locomoção dos pais neste momento. Os encontros geralmente tem duração de uma a duas horas, e podem ser realizadas individualmente com a mãe ou pai, ou com ambos. A quantidade de encontros é estabelecida conforme a necessidade.
telefone para contato: (11) 9966-2314
ou por e-mail: cristoledano@hotmail.com
Na minha experiência no trabalho com mulheres no pós parto, o atendimento domiciliar é muitas vezes a única forma de levar adiante este apoio por conta da dificuldade de locomoção dos pais neste momento. Os encontros geralmente tem duração de uma a duas horas, e podem ser realizadas individualmente com a mãe ou pai, ou com ambos. A quantidade de encontros é estabelecida conforme a necessidade.
telefone para contato: (11) 9966-2314
ou por e-mail: cristoledano@hotmail.com
A hora do encontro é também despedida
A hora do encontro, é também despedida
Quando nasce um filho, a nossa vida muda. Para algumas drasticamente, para outras menos, mas ter um filho sempre implica alguma transformação. Ter um filho é a expressão mais contundente da novidade...
Aquilo que era, até então, precisa ceder lugar para o novo, e este movimento dificilmente é liso e tranquilo. Me vem à cabeça uma palavra que eu acho que descreve a intensidade e a extrema delicadeza deste momento: vive-se no pós-parto um luto. Sim, um luto. Luto por um modo da gente viver a vida que não encontra mais possibilidade de ser como era. Pode parecer esquisito e paradoxal falar em morte num momento em que o nascimento é o grande protagonista, mas é exatamente este paradoxo que está presente, e que se mostra, na calada da noite, no desconforto da dedicação ininterrupta com os cuidados com o bebê, nos desejos de reter (re-ter, ou ter novamente) a vida que era, tudo isso, muitas vezes vivido solitariamente no silêncio do nosso íntimo.
A expressão “baby blues” do inglês, que traduzo aqui como tristeza materna, é um sentimento que nasce deste drama que a mulher vive. Este sentimento é, muitas vezes, indesejado e mal compreendido. A recém-mãe se assusta ao se ver triste, e muitas vezes se culpa por sentir-se assim. Como posso estar triste num momento alegre como este?
Se olharmos com cuidado e carinho para o verdadeiro significado deste momento, e todas as implicações que ele tem concretamente nas nossas vidas, esta tristeza se mostra como sendo legítima e compreensível, pois o que está se dando, de fato na experiência desta mulher, é uma enorme mudança. Uma passagem que exige um deixar ir, quase sempre lento e sofrido, mas que aos poucos, se lhe é permitida sua expressão, o seu pranto, pode abrir-se para o novo, pois ao que foi, deu-se o seu devido lugar de valor. Vive-se um luto, e todo luto é despedida.
Choramos porque fomos felizes.
Assim, para receber bem, é preciso deixar ir... na alegria e perplexidade diante do nascimento, dois lados da mesma moeda, de uma mesma mulher, de uma nova mulher, que renasce inteira porque pode dizer adeus.
Como diz nosso querido Milton Nascimento: “A hora do encontro é também despedida. A plataforma da estação é a vida”.
Um beijo com carinho,
Cris Toledano
Quando nasce um filho, a nossa vida muda. Para algumas drasticamente, para outras menos, mas ter um filho sempre implica alguma transformação. Ter um filho é a expressão mais contundente da novidade...
Aquilo que era, até então, precisa ceder lugar para o novo, e este movimento dificilmente é liso e tranquilo. Me vem à cabeça uma palavra que eu acho que descreve a intensidade e a extrema delicadeza deste momento: vive-se no pós-parto um luto. Sim, um luto. Luto por um modo da gente viver a vida que não encontra mais possibilidade de ser como era. Pode parecer esquisito e paradoxal falar em morte num momento em que o nascimento é o grande protagonista, mas é exatamente este paradoxo que está presente, e que se mostra, na calada da noite, no desconforto da dedicação ininterrupta com os cuidados com o bebê, nos desejos de reter (re-ter, ou ter novamente) a vida que era, tudo isso, muitas vezes vivido solitariamente no silêncio do nosso íntimo.
A expressão “baby blues” do inglês, que traduzo aqui como tristeza materna, é um sentimento que nasce deste drama que a mulher vive. Este sentimento é, muitas vezes, indesejado e mal compreendido. A recém-mãe se assusta ao se ver triste, e muitas vezes se culpa por sentir-se assim. Como posso estar triste num momento alegre como este?
Se olharmos com cuidado e carinho para o verdadeiro significado deste momento, e todas as implicações que ele tem concretamente nas nossas vidas, esta tristeza se mostra como sendo legítima e compreensível, pois o que está se dando, de fato na experiência desta mulher, é uma enorme mudança. Uma passagem que exige um deixar ir, quase sempre lento e sofrido, mas que aos poucos, se lhe é permitida sua expressão, o seu pranto, pode abrir-se para o novo, pois ao que foi, deu-se o seu devido lugar de valor. Vive-se um luto, e todo luto é despedida.
Choramos porque fomos felizes.
Assim, para receber bem, é preciso deixar ir... na alegria e perplexidade diante do nascimento, dois lados da mesma moeda, de uma mesma mulher, de uma nova mulher, que renasce inteira porque pode dizer adeus.
Como diz nosso querido Milton Nascimento: “A hora do encontro é também despedida. A plataforma da estação é a vida”.
Um beijo com carinho,
Cris Toledano
Uma possível leitura existencial do conceito de transferência
A elaboração desta reflexão a respeito do conceito de transferência é resultado das discussões em grupo que tivemos ao longo de um ano nas reuniões clínicas da Psicoblue de Osasco, nas quais pudemos discutir este conceito teórico da abordagem psicanalítica, e articulá-la ao nosso trabalho clínico dentro da instituição Psicoblue. É importante primeiro esclarecer que a escolha do tema para esta reflexão diverge do que foi proposto ao grupo como eixo de trabalho. Nos foi proposto que discutíssemos a questão da transferência com foco na sua articulação com a instituição, e que relatássemos um caso clínico em que pudéssemos pensar como a instituição em que trabalhamos influencia e nos revela sentidos sobre a forma como o paciente se relaciona com a terapia, conosco e com o mundo, e como estes sentidos levantados pudessem ser relevantes para nosso trabalho clínico. Porém, ao pensar sobre esta temática proposta, me deparei com uma limitação que me impediu de realizar esta reflexão mais focada, pois constatei que havia de minha parte uma incompreensão conceitual que me impossibilitava qualquer elaboração mais aprofundada sobre este tema. Percebi que era necessário dar um passo atrás para entender melhor o conceito em si, em grande parte porque este conceito integra um corpo teórico distinto ao meu. Sua compreensão exigiria da minha parte uma tradução do seu sentido para uma linguagem mais próxima da abordagem existencial que me é mais familiar e com a qual conduzo minha prática clínica, uma vez que não possuo o conhecimento teórico e prático da psicanálise necessário para elaborar uma reflexão rigorosa deste conceito.
Tenho clareza de que a discussão deste trabalho é insuficiente a priori, pois reconheço a dificuldade e a precariedade de se comentar um conceito pertencente a uma abordagem terapêutica, neste caso a psicanálise, a partir de todo um outro referencial metodológico. Tal empreitada exigiria uma aproximação mais completa de uma abordagem em relação à outra. Rollo May realiza esta aproximação crítica, o que justifica que seja utilizado como referência neste trabalho. Esta discussão a seguir portanto se fará muito mais consistente a partir da leitura de seu livro A descoberta do ser.
Como entender o fenômeno da transferência sob a ótica da abordagem fenomenológico existencial?
Primeiramente é importante esclarecer as bases filosóficas sobre as quais a fenomenologia sustenta a sua prática. Nesta discussão, utilizarei como base o livro A descoberta do Ser, do analista existencial Rollo May. O que sustenta a terapêutica existencial é a compreensão do homem enquanto ser. Segundo May: “O caráter distinto da análise existencial é (...) estar ela relacionada com a ontologia, a ciência do ser, e com Dasein, a existência desse ser em particular sentado à frente do psicoterapeuta” (p. 99).
A preocupação da análise existencial e das correntes filosóficas existenciais em recolocar a questão ontológica como essencial para a compreensão do homem deve-se à constatação de estarmos perigosamente vivendo no interior do que Heidegger chamou de era do “esquecimento do Ser”. O pensamento metafísico, que permeou todo o pensamento no ocidente mais explicitamente desde Descartes, dicotomizou a relação do homem e seu mundo o dividindo em sujeito-objeto. Com isso, o homem ocidental passou a desconhecer o seu pertencimento ao mundo, transformando ele não mais em uma realidade vivida a partir de si, e condição para o ser, mas algo com o qual se relaciona de maneira indireta, por meio da dedução, do cálculo, do controle, da análise etc. Esta “alienação de si próprio em relação ao mundo” (p.131), como diz May, abre espaço para que as pessoas estabeleçam um tipo de comunicação “técnica” (131) com seus mundos; com as coisas, pessoas e consigo mesmo.
Assim, para os analistas existenciais, segundo May, “o mundo é uma estrutura de relacionamentos importantes no qual uma pessoa existe e de cujo plano participa” (p.135). Desta definição ampla da relação homem-mundo, três dimensões, ou mundos simultâneos, caracterizam a existência enquanto ser-no-mundo: Umwelt (mundo ao redor), Mitwelt (com o mundo) e Eigenwelt (mundo próprio). O primeiro sendo aquele que compartilhamos com todos os organismos, o mundo natural das necessidades “biológicas, impulsos, instintos”(p.139), também o das contingências, das determinações e condições nas quais o homem foi lançado e deve de alguma forma adaptar-se. É desta forma que se dá a relação do homem com os objetos, num ajustamento onde somente o homem é afetado. O segundo mundo “é o mundo dos inter-relacionamentos entre os seres humanos”(p.140). Neste mundo, incluímos o termo relacionamento, em que há um contato entre ambas as partes, e nesse contato ambas se afetam, experimentam mudanças ou transformações. Neste sentido, o ajustamento e adaptação, como o é em Umwelt, não é exato; se eles forem exigidos por alguma das partes, a outra estaria sendo tomada como objeto, ou instrumento. O terceiro mundo, ou Eigenwelt, é o mundo próprio, em que o homem experiencia a percepção de si mesmo. Ela não é subjetiva ou interior, como diz May, mas “a base sobre a qual nos relacionamos. É a percepção do que uma coisa qualquer no mundo significa para mim” (p. 142). Estas três dimensões existenciais do mundo são distintas, mas se condicionam sempre, são modos simultâneos. É justamente não levar em consideração esta simultaneidade dos modos de relação, de sobrevalorizar um em detrimento aos outros, que resultaria em uma perda de um senso de realidade numa experiência.
Colocados estes conceitos, podemos voltar nossa atenção para o conceito que nos propusemos a discutir, o da transferência. O relacionamento entre duas pessoas no consultório, mais especificamente entre o terapeuta e o paciente, para a psicanálise clássica é traduzido conceitualmente como transferência. Freud explica, em seu texto A dinâmica da transferência, que devemos compreender que “cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e suas influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – isto é, nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela. Isso produz o que se poderia descrever como um clichê estereotípico (ou diversos deles), constantemente repetido – constantemente reimpresso – no decorrer da vida da pessoa, na medida em que as circunstâncias externas e a natureza dos objetos amorosos a ela acessíveis permitam, e que decerto não é inteiramente incapaz de mudar, frente a experiências recentes.” (p.133) O conceito de transferência formulado por Freud, assinala que há formas enrijecidas de relação que os pacientes revelam em terapia com seus terapeutas, repetindo com estes modos de se relacionar que sustentaram ou continuam sustentando com o pai, mãe, amante, filhos. May propõe entender este dinamismo muito bem observado por Freud, porém agora sobre bases ontológicas. Passamos a entender este fenômeno não somente como formas através das quais os impulsos eróticos se expressam, mas também como uma “distorção do contato” (p.21) , reflexo de um sentimento de ser enfraquecido ou pouco amadurecido.
Se em Mitwelt o contato entre os homens é sempre transformador e afeta ambos em maior e menor grau, esta transformação pode ser também bastante geradora de ansiedade, além de prazerosa também. Este contato real com o outro nos torna “abertos” e abala formas “seguras” e familiares de se ser, tornando este contato um risco em potencial, uma “morte” iminente. Quando este contato é distorcido, é exatamente esta transformação que o homem evita. Evita “soltar-se” por sentir-se ameaçado de alguma forma e no extremo, podendo sentir medo de perder-se. Levando adiante esta reflexão ao recolocá-la sobre bases existenciais, podemos entender que o que se processa entre o terapeuta e o paciente não é propriamente uma transferência de sentimentos que o paciente teve com relação ao pai, mãe ou esposa, mas que “em certas áreas [o paciente] não pode desenvolver além das formas limitadas e restritivas da experiência característica da infância” (p. 169).
Esta evitação pode ser vivida tanto por parte do paciente quanto do terapeuta, uma vez que ambos estão implicados na relação. Neste sentido, é prerrogativa da terapêutica fenomenológica que o terapeuta também participe dos sentimentos e do mundo do paciente, buscando, através de um contato genuíno com este, primeiramente a construção de uma confiança nesta relação para que o paciente possa inaugurar novas formas mais amadurecidas e menos rígidas de relação. Para que o paciente possa, cada vez mais, ampliar suas formas de comunicação com os outros. Refletir sobre o que se passa entre dois seres humanos é algo que May acredita termos nos isentado de conceituar, principalmente porque só percebemos a sua distorção, a transferência (p. 25).
Esta distorção do contato pode ser entendida por um lado, como uma sobrevalorização da dimensão Umwelt descrita acima, em detrimento às outras formas de relação do homem com seu mundo, que são simultâneas. Quando um paciente se relaciona com seu terapeuta de forma a tratá-lo como seu pai, mãe etc., há de certa maneira uma insistência para que o outro, no caso o terapeuta, ajuste-se a ele, de forma a “controlar” a situação, evitar o envolvimento e sustentar modos de ser familiares a ele e, portanto, seguros. Seria justamente tomar o outro como instrumento, ou objeto, quando ambos estão necessariamente em relação e em afeto mútuo. Ainda assim, a afirmação de que o paciente somente deseja “controlar” a relação se torna insuficiente se levarmos em consideração que junto a este controle, evidencia-se também uma necessidade de ser colocada em sua insistência em ser de tal forma. Esta necessidade é sempre dirigida ao outro na relação; neste caso, já não falamos mais somente em Umwelt, e sim na dimensão que sustenta as relações, ou Mitwelt, onde o que é dito e vivido por uma pessoa é sempre para alguém, para alguém que “ escute”. Esta resistência/insistência, marcada por um temor, dilui-se na medida em que o paciente experimenta sentir-se seguro de viver esta entrega a novidade do outro, e de si mesmo, e que o risco já não seja vivido como ameaça ao seu ser. Mais especificamente na terapia (mas não só), isto acontece na medida em que isto de que o paciente precisa, (aprovação, expressão da raiva, do medo) - e que por isso insiste - seja escutado, e vá com a ajuda do terapeuta adquirindo uma maior clareza de sentido. Esta insistência, ao lado de ser um controle, não seria assim uma necessidade de contato? Neste sentido, a resistência/insistência se mostra também ser uma postura legítima de defesa do paciente em resposta contra uma desvalorização ou indiferença frente a seu modo de ser. Uma outra implicação clínica da sobrevalorização de Umwelt, danosa ao contato necessário para a transformação do paciente (e do terapeuta também) seria o próprio terapeuta enxergar os pacientes como aqueles que buscam aos outros pela “(...)necessidade de se defrontarem com as exigências biológicas(...)”, transformando Mitwelt, num “epifenômeno”(p. 143) de Umwelt.
É importante salientar nesta discussão que todos nós, em algum momento, nos relacionamos com os outros como se fossem pai, mãe, marido etc. Quase tudo o que ocorre entre o terapeuta e seu paciente revela a “transferência”. Esta “transferência”, porém, está sempre acontecendo num relacionamento entre duas pessoas, e é justamente neste relacionamento que se abre a possibilidade do paciente experimentar o que faz, permitindo que esta experiência “se apodere dele”, se torne real, e dessa forma crie consistência e força suficiente para a mudança. Neste sentido, é fundamental na terapêutica existencial permitir o “tempo existencial” (p. 177) daquele paciente em particular, que a relação do paciente com o terapeuta seja o palco desta experimentação para que ele possa viver mais plenamente sua dimensão Eigenwelt, criando consciência de seus atos e escolhas.
A fenomenologia, segundo May, “não rejeita a validade dos dinamismos e o estudo dos padrões específicos de comportamento, quando considerados adequadamente, mas sustenta que os impulsos, ou dinamismos, seja qual for o nome que se prefira dar, só podem ser entendidos no contexto da estrutura da pessoa com quem estamos lidando.” (p.99) Assim é possível entender o fenômeno da transferência como resposta pessoal do paciente à dura luta de reconhecer sua “potentia” de transformação, que envolve a riqueza e delicadeza de relacionar-se com o outro, de relacionar-se com o novo e diferente, de si e do outro, e somente podendo ser agente próprio de sua superação através do contato real entre duas pessoas.
Bibliografia utilizada:
MAY, Rollo. A descoberta do ser: estudos sobre a psicologia existencial. Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2000
Tenho clareza de que a discussão deste trabalho é insuficiente a priori, pois reconheço a dificuldade e a precariedade de se comentar um conceito pertencente a uma abordagem terapêutica, neste caso a psicanálise, a partir de todo um outro referencial metodológico. Tal empreitada exigiria uma aproximação mais completa de uma abordagem em relação à outra. Rollo May realiza esta aproximação crítica, o que justifica que seja utilizado como referência neste trabalho. Esta discussão a seguir portanto se fará muito mais consistente a partir da leitura de seu livro A descoberta do ser.
Como entender o fenômeno da transferência sob a ótica da abordagem fenomenológico existencial?
Primeiramente é importante esclarecer as bases filosóficas sobre as quais a fenomenologia sustenta a sua prática. Nesta discussão, utilizarei como base o livro A descoberta do Ser, do analista existencial Rollo May. O que sustenta a terapêutica existencial é a compreensão do homem enquanto ser. Segundo May: “O caráter distinto da análise existencial é (...) estar ela relacionada com a ontologia, a ciência do ser, e com Dasein, a existência desse ser em particular sentado à frente do psicoterapeuta” (p. 99).
A preocupação da análise existencial e das correntes filosóficas existenciais em recolocar a questão ontológica como essencial para a compreensão do homem deve-se à constatação de estarmos perigosamente vivendo no interior do que Heidegger chamou de era do “esquecimento do Ser”. O pensamento metafísico, que permeou todo o pensamento no ocidente mais explicitamente desde Descartes, dicotomizou a relação do homem e seu mundo o dividindo em sujeito-objeto. Com isso, o homem ocidental passou a desconhecer o seu pertencimento ao mundo, transformando ele não mais em uma realidade vivida a partir de si, e condição para o ser, mas algo com o qual se relaciona de maneira indireta, por meio da dedução, do cálculo, do controle, da análise etc. Esta “alienação de si próprio em relação ao mundo” (p.131), como diz May, abre espaço para que as pessoas estabeleçam um tipo de comunicação “técnica” (131) com seus mundos; com as coisas, pessoas e consigo mesmo.
Assim, para os analistas existenciais, segundo May, “o mundo é uma estrutura de relacionamentos importantes no qual uma pessoa existe e de cujo plano participa” (p.135). Desta definição ampla da relação homem-mundo, três dimensões, ou mundos simultâneos, caracterizam a existência enquanto ser-no-mundo: Umwelt (mundo ao redor), Mitwelt (com o mundo) e Eigenwelt (mundo próprio). O primeiro sendo aquele que compartilhamos com todos os organismos, o mundo natural das necessidades “biológicas, impulsos, instintos”(p.139), também o das contingências, das determinações e condições nas quais o homem foi lançado e deve de alguma forma adaptar-se. É desta forma que se dá a relação do homem com os objetos, num ajustamento onde somente o homem é afetado. O segundo mundo “é o mundo dos inter-relacionamentos entre os seres humanos”(p.140). Neste mundo, incluímos o termo relacionamento, em que há um contato entre ambas as partes, e nesse contato ambas se afetam, experimentam mudanças ou transformações. Neste sentido, o ajustamento e adaptação, como o é em Umwelt, não é exato; se eles forem exigidos por alguma das partes, a outra estaria sendo tomada como objeto, ou instrumento. O terceiro mundo, ou Eigenwelt, é o mundo próprio, em que o homem experiencia a percepção de si mesmo. Ela não é subjetiva ou interior, como diz May, mas “a base sobre a qual nos relacionamos. É a percepção do que uma coisa qualquer no mundo significa para mim” (p. 142). Estas três dimensões existenciais do mundo são distintas, mas se condicionam sempre, são modos simultâneos. É justamente não levar em consideração esta simultaneidade dos modos de relação, de sobrevalorizar um em detrimento aos outros, que resultaria em uma perda de um senso de realidade numa experiência.
Colocados estes conceitos, podemos voltar nossa atenção para o conceito que nos propusemos a discutir, o da transferência. O relacionamento entre duas pessoas no consultório, mais especificamente entre o terapeuta e o paciente, para a psicanálise clássica é traduzido conceitualmente como transferência. Freud explica, em seu texto A dinâmica da transferência, que devemos compreender que “cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e suas influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – isto é, nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela. Isso produz o que se poderia descrever como um clichê estereotípico (ou diversos deles), constantemente repetido – constantemente reimpresso – no decorrer da vida da pessoa, na medida em que as circunstâncias externas e a natureza dos objetos amorosos a ela acessíveis permitam, e que decerto não é inteiramente incapaz de mudar, frente a experiências recentes.” (p.133) O conceito de transferência formulado por Freud, assinala que há formas enrijecidas de relação que os pacientes revelam em terapia com seus terapeutas, repetindo com estes modos de se relacionar que sustentaram ou continuam sustentando com o pai, mãe, amante, filhos. May propõe entender este dinamismo muito bem observado por Freud, porém agora sobre bases ontológicas. Passamos a entender este fenômeno não somente como formas através das quais os impulsos eróticos se expressam, mas também como uma “distorção do contato” (p.21) , reflexo de um sentimento de ser enfraquecido ou pouco amadurecido.
Se em Mitwelt o contato entre os homens é sempre transformador e afeta ambos em maior e menor grau, esta transformação pode ser também bastante geradora de ansiedade, além de prazerosa também. Este contato real com o outro nos torna “abertos” e abala formas “seguras” e familiares de se ser, tornando este contato um risco em potencial, uma “morte” iminente. Quando este contato é distorcido, é exatamente esta transformação que o homem evita. Evita “soltar-se” por sentir-se ameaçado de alguma forma e no extremo, podendo sentir medo de perder-se. Levando adiante esta reflexão ao recolocá-la sobre bases existenciais, podemos entender que o que se processa entre o terapeuta e o paciente não é propriamente uma transferência de sentimentos que o paciente teve com relação ao pai, mãe ou esposa, mas que “em certas áreas [o paciente] não pode desenvolver além das formas limitadas e restritivas da experiência característica da infância” (p. 169).
Esta evitação pode ser vivida tanto por parte do paciente quanto do terapeuta, uma vez que ambos estão implicados na relação. Neste sentido, é prerrogativa da terapêutica fenomenológica que o terapeuta também participe dos sentimentos e do mundo do paciente, buscando, através de um contato genuíno com este, primeiramente a construção de uma confiança nesta relação para que o paciente possa inaugurar novas formas mais amadurecidas e menos rígidas de relação. Para que o paciente possa, cada vez mais, ampliar suas formas de comunicação com os outros. Refletir sobre o que se passa entre dois seres humanos é algo que May acredita termos nos isentado de conceituar, principalmente porque só percebemos a sua distorção, a transferência (p. 25).
Esta distorção do contato pode ser entendida por um lado, como uma sobrevalorização da dimensão Umwelt descrita acima, em detrimento às outras formas de relação do homem com seu mundo, que são simultâneas. Quando um paciente se relaciona com seu terapeuta de forma a tratá-lo como seu pai, mãe etc., há de certa maneira uma insistência para que o outro, no caso o terapeuta, ajuste-se a ele, de forma a “controlar” a situação, evitar o envolvimento e sustentar modos de ser familiares a ele e, portanto, seguros. Seria justamente tomar o outro como instrumento, ou objeto, quando ambos estão necessariamente em relação e em afeto mútuo. Ainda assim, a afirmação de que o paciente somente deseja “controlar” a relação se torna insuficiente se levarmos em consideração que junto a este controle, evidencia-se também uma necessidade de ser colocada em sua insistência em ser de tal forma. Esta necessidade é sempre dirigida ao outro na relação; neste caso, já não falamos mais somente em Umwelt, e sim na dimensão que sustenta as relações, ou Mitwelt, onde o que é dito e vivido por uma pessoa é sempre para alguém, para alguém que “ escute”. Esta resistência/insistência, marcada por um temor, dilui-se na medida em que o paciente experimenta sentir-se seguro de viver esta entrega a novidade do outro, e de si mesmo, e que o risco já não seja vivido como ameaça ao seu ser. Mais especificamente na terapia (mas não só), isto acontece na medida em que isto de que o paciente precisa, (aprovação, expressão da raiva, do medo) - e que por isso insiste - seja escutado, e vá com a ajuda do terapeuta adquirindo uma maior clareza de sentido. Esta insistência, ao lado de ser um controle, não seria assim uma necessidade de contato? Neste sentido, a resistência/insistência se mostra também ser uma postura legítima de defesa do paciente em resposta contra uma desvalorização ou indiferença frente a seu modo de ser. Uma outra implicação clínica da sobrevalorização de Umwelt, danosa ao contato necessário para a transformação do paciente (e do terapeuta também) seria o próprio terapeuta enxergar os pacientes como aqueles que buscam aos outros pela “(...)necessidade de se defrontarem com as exigências biológicas(...)”, transformando Mitwelt, num “epifenômeno”(p. 143) de Umwelt.
É importante salientar nesta discussão que todos nós, em algum momento, nos relacionamos com os outros como se fossem pai, mãe, marido etc. Quase tudo o que ocorre entre o terapeuta e seu paciente revela a “transferência”. Esta “transferência”, porém, está sempre acontecendo num relacionamento entre duas pessoas, e é justamente neste relacionamento que se abre a possibilidade do paciente experimentar o que faz, permitindo que esta experiência “se apodere dele”, se torne real, e dessa forma crie consistência e força suficiente para a mudança. Neste sentido, é fundamental na terapêutica existencial permitir o “tempo existencial” (p. 177) daquele paciente em particular, que a relação do paciente com o terapeuta seja o palco desta experimentação para que ele possa viver mais plenamente sua dimensão Eigenwelt, criando consciência de seus atos e escolhas.
A fenomenologia, segundo May, “não rejeita a validade dos dinamismos e o estudo dos padrões específicos de comportamento, quando considerados adequadamente, mas sustenta que os impulsos, ou dinamismos, seja qual for o nome que se prefira dar, só podem ser entendidos no contexto da estrutura da pessoa com quem estamos lidando.” (p.99) Assim é possível entender o fenômeno da transferência como resposta pessoal do paciente à dura luta de reconhecer sua “potentia” de transformação, que envolve a riqueza e delicadeza de relacionar-se com o outro, de relacionar-se com o novo e diferente, de si e do outro, e somente podendo ser agente próprio de sua superação através do contato real entre duas pessoas.
Bibliografia utilizada:
MAY, Rollo. A descoberta do ser: estudos sobre a psicologia existencial. Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2000
"Um mundo invertido" - Análise fenomenológica de um caso clínico
Este trabalho tem como objetivo fazer uma descrição e uma análise fenomenológica existencial de um caso clínico. O paciente em questão é um menino de 8 anos que foi atendido por mim no período de novembro de 2009 a março de 2010. A partir desta descrição, vou buscar unidades de sentido que permitam compreender o mundo desta criança.
Neste sentido, é importante esclarecer que, para a análise existencial, qualquer análise antropológica deve necessariamente partir da tese ontológica de que o homem não é um sujeito que se relaciona com o mundo, mas que sua estrutura fundamental é a de ser em um mundo, de que ele é seu mundo, eliminando a distância que se criou na tese científica clássica de que há uma separação fundamental entre sujeito e objeto. Não é objetivo deste trabalho fazer uma reflexão filosófica ontológica sobre as diferenças destes pontos de partida analíticos tão distintos, mas desenvolver mais detalhadamente as unidades de sentido ou, em outras palavras, as dimensões ontológicas que utilizaremos aqui e que orientarão uma reflexão a respeito do mundo do paciente.
Estas unidades de sentido não fazem parte de um corpo teórico, nem são escolhidas aleatoriamente em uma reflexão a partir das informações colhidas do paciente. São, pelo contrário, dimensões existenciais que todo homem carrega e às quais responde, cada um à sua maneira individual. Acredito que esta reflexão por si já evidenciará as diferenças ontológicas entre o método fenomenológico e o científico metafísico, e serão uma demonstração da forma como se encaminha um uso da metodologia existencial analítica.
A seguir, faço um breve relato das primeiras entrevistas que realizei com a mãe de Renato e sua escola. Este relato ajudará na compreensão do caso que farei, onde incluo descrições dos acontecimentos em nossos encontros.
A mãe de Renato (que chamarei aqui de Sara para facilitar a leitura e preservar sua identidade real) procurou atendimento psicológico a pedido da escola com a queixa de que o filho não havia aprendido a ler e a escrever e de que era “indisciplinado” e “imaturo”. Na época, Renato tinha 7 anos de idade e cursava a segunda série do primeiro grau. A mãe relatou não ter esta percepção do filho em casa, que não reconhecia o filho que descreviam na escola, e que acreditava que sua dificuldade em aprender estava relacionada com o fato de sua professora não gostar dele. Preocupada com o fato da criança não ler e não escrever, Sara fez que Renato passasse a ter aulas particulares com uma tia da família, duas vezes por semana, uma hora por encontro. A única coisa que sabia realizar era contar de 1 a 50, mas precisava sempre começar do número 1. Contou que pediu para a escola para mudá-lo de classe por causa do relacionamento conturbado com a professora, e que não queria que Renato passasse de ano por não saber ler e escrever, mas que a escola não aceitou seus pedidos. Chegou a pensar em tirá-lo da escola, mas até o começo das sessões não o havia realizado.
Sua percepção do comportamento de Renato era a de ser uma criança às vezes “turrona”, “briguenta” e “birrenta”. Contou que Renato brigava bastante com as crianças do prédio, muito em defesa do irmão mais velho que é “quietinho”. Este irmão mais velho na época tinha 10 anos. Responsável e bom aluno, era quem cuidava do Renato quando a mãe estava trabalhando. As crianças passavam bastante tempo sozinhas em casa por ela não ter com quem deixá-los. Saía cedo de casa e só retornava à noite. Renato acabava muitas vezes não indo para a escola, pois se recusava a entrar no ônibus escolar. Na época, Sara relatou que Renato acordava a noite gritando e chamando seu irmão.
A relação de Renato com o pai (que chamarei de Tadeu) sempre foi conturbada. Separaram-se quando Renato tinha dois meses de idade. Sua gravidez não foi planejada, e foi um período bastante turbulento em sua vida. Segundo ela, Renato não foi desejado pelo pai, que queria que ela realizasse um aborto. Tadeu casou-se com outra mulher e com ela teve um filho, e só começou a ter contato com Renato quando este tinha 2 anos de idade, à época em que o garoto retornou da casa dos avós maternos no interior. Os avós maternos cuidaram de Renato dos 8 meses aos 2 anos de idade, enquanto Sara trabalhava em São Paulo.
Segundo ela, depois da separação, a causa das constantes brigas entre ela e Tadeu se devia ao fato de que este não participava da vida dos filhos, e não contribuía financeiramente para o sustento deles. Sara abriu ações judiciais contra ele com pedido de pensão, porém, no momento da entrevista, ainda não havia conseguido receber o dinheiro. Ela relatou também ter agredido Tadeu diversas vezes fisicamente, por sentir raiva por ele não ajudá-la no cuidado com os filhos. Na sua fala pude perceber que muito da comunicação entre Sara e Tadeu se dava por via dos filhos, muitas vezes de forma bastante agressiva.
Sara disse que chegou a pensar que a atual esposa de Tadeu agredia Renato fisicamente. Nas poucas vezes em que pude conversar com Tadeu por telefone, ele alegava que Sara buscava afastá-lo dos filhos e que não conseguia maior comunicação com eles por causa de sua agressividade. Sua relação com Renato acontece em alguns finais de semana por mês, geralmente de quinze em quinze dias.
Em conversa com a coordenação e com a professora de Renato à epoca, me foi descrito por ambas que Renato era “briguento” com seus colegas e professores, que tinha comportamentos de se jogar no chão, se arrastar, e comportamentos infantis para sua idade. Renato rasgava e “destruía” seus cadernos escolares e vinha sem nenhum material para escola. Chegava bastante sujo à escola, às vezes machucado pelas brigas que tinha com amigos do condomínio onde morava. Foi relatado pela professora que fugia do prédio onde tinha aulas com ela e com outros professores.
Era bastante comum pedir à professora para ir ao banheiro durante as aulas. Esta já não sabia mais como lidar com Renato, nem com sua mãe, e reconheceu ao telefone comigo que já não se dedicava mais tanto a ele em sala de aula.
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Dentro da perspectiva analítica existencial, uma investigação a respeito do modo de ser de um paciente deve necessariamente partir de uma investigação das formas como este paciente experimenta as dimensões ontológicas, ou estruturas fundamentais da existência. A seguir faço uma breve explanação das dimensões ontológicas que servirão de unidades de sentido que orientarão minha reflexão a respeito do mundo de Renato.
O mundo e suas três dimensões: Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt
Muitos analistas existenciais distinguem três mundos que caracterizam a existência do homem: Umwelt, que literalmente significa “mundo ao redor”, Mitwelt ou “mundo com” e Eigenwelt ou “mundo próprio”. A partir daqui, me basearei na reflexão aprofundada destes três mundos e das dimensões ontologicas realizada pelo analista existencial Rollo May em seu livro A descoberta do ser. Esta descrição certamente será demasiado sintética, portanto, uma compreensão a respeito destas dimensões se fará muito mais consistente a partir da leitura de seu livro.
O primeiro mundo poderia de forma simplificada ser traduzido aqui para nossa compreensão como o mundo das determinações e pela consequente adaptação. É o mundo das causas e efeitos, onde aquilo que vivemos está de alguma forma predeterminado. Para Rollo May, seria o mundo da “limitação e do determinismo biológico, o ´mundo imposto´ no qual cada um de nós foi lançado por meio da nascimento, e deve de alguma forma, ajustar-se.”(May, p.139). Já o segundo mundo, Mitwelt, é o mundo das relações entre os homens e que em sua essência, diferentemente do mundo anterior, é condicionado pela transformação mútua, pela afetação, já que é sempre vivido no contexto da diferença e das múltiplas formas em que um estar junto ao outro pode acontecer. Eigenwelt seria o mundo mais comumente conhecido como o da auto-consciencia, “é a percepção do que uma coisa qualquer no mundo (...) significa para mim.” (May, p.142) Esta seria a base sobre a qual nos relacionamos, como compreendemos o que nos acontece e como nos apropriamos disso e que encaminhamento escolhemos dar a nossa vida.
Temporalidade e espacialidade
A experiência do mundo para o homem é sempre uma experiência de espacialização e uma temporalização do seu modo de ser. Neste sentido, o tempo relativo a existência “emerge” como coloca May (p.149). “A existencia está sempre em processo de formação, sempre desenvolvendo-se no tempo, e jamais poderia ser definida em termos de pontos estáticos”. O tempo do relógio seria mais precisamente uma “espacialização do tempo”, e relaciona-se a nossa dimensão Umwelt, onde as determinações e as forças condicionadoras regem os atos. Já em Mitwelt, o mundo das relações, o tempo quantitativo ganha importância menor em relação ao significado de um acontecimento. A experiência de percepção de si próprio, ou Eigenwelt também não se relaciona com o tempo do relógio, chronos, ela é Kairós, ou tempo da significação. Neste sentido, se a existência é marcada pela qualidade de estar sempre sendo, de estar se desenvolvendo no tempo, a dimensão do futuro, ou vir-a-ser do homem, ganha uma importância maior. “um homem somente pode compreender a si próprio ao projetar-se para frente” (p.153). O passado seria do domínio de Umwelt, das contingências, do que já foi, e assim, aquilo que o indivíduo busca ser determina o que ele recorda de ter sido.
Diferentemente do espaço geométrico, que é uma construção pré-determinada, neste sentido relativa ao Umwelt, o espaço experimentado no âmbito existencial poderia ser traduzido literalmente como modo de ser. O espaço que experimentamos tem relação direta com a forma como nos relacionamos com as nossas potencialidades e limitações, e ganham qualidade na medida em que experimentamos uma abertura ou fechamento de nossas possibilidades de ser. Em Mitwelt e em Eigenwelt, o espaço ganha qualidade a partir dos acontecimentos experimentados na relação com o outro e consigo mesmo.
Angústia existencial – Ser e não ser
O significado da palavra ser é bastante complexo, e não cabe aqui neste trabalho aprofundar e ampliar uma compreensão a seu respeito, porém, para os objetivos deste trabalho, é importante colocar que podemos simplificar sua compreensão citando uma frase de May: “ser é a potencialidade pela qual a semente se torna uma árvore ou cada um de nós se torna aquilo que realmente é” (p.105) Porém, não-ser é parte inseparável do ser. A consciência das ameaças ao ser, de que a existência é frágil, de que nossas potencialidades podem estar comprometidas, e cuja expressão mais contundente é a própria morte, é que produz vitalidade e sentido, e também um “fortalecimento da consciência de si mesmo, de seu mundo e dos outros ao seu redor.” (p.116)
Esta compreensão da possibilidade do não-ser é a base na qual se sustenta o que chamamos aqui de angústia existencial. Diferentemente do medo, que tem uma expressão objetiva e relaciona-se a algo específico, a angústia é a expressão da condição humana. A vivência da angústia, que tem sua raiz na angústia existencial, aparece no momento em que alguma potencialidade surge diante do homem, mas esta possibilidade surge enquanto ameaça.
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Nos meus encontros com Renato, me chamava a atenção que todos os elementos em suas brincadeiras sempre terminavam em explosão, colisão, desmembramento e morte. Carros que se chocavam incessantemente, postos de gasolina e caixa lúdica eram explodidas, pernas cabeças e braços lançados ao ar. Brincava de tirar os membros dos corpos, e de espancar os bonecos e lançá-los longe. Tinha muita dificuldade em participar com ele das brincadeiras, uma vez que tudo sempre tinha um fim trágico muito rapidamente. Era como se qualquer expressão que se esboçasse por parte de qualquer elemento fosse interrompida de forma violenta.
Ao mesmo tempo, Renato demonstrava ter muita consciência dos perigos, e era muito presente na sua fala, expressões do tipo “Se... então...”. Alguns exemplos disso: Certa vez observou que um boneco, porque estava sem camisa, se caísse poderia se machucar, outra, de que a faísca de um dos carros da caixa lúdica (que tem um mecanismo de faísca interno) não estivesse “fechada” dentro do corpo do carro, ela poderia produzir fogo.
Começamos a ver que o mundo de Renato é regido fortemente pela impossibilidade de uma expressão livre, e que esta expressão pudesse adquirir algum desenvolvimento e amadurecimento. Esta expressão ou potencialidade foi sempre marcada pela interrupção. Podemos pensar que a sua liberdade de poder ser está fortemente comprometida. Neste sentido, a dimensão Umwelt, das determinações, ganha em sua vivência, uma predominância, e sua relação com os acontecimentos da vida, passam a ser do tipo causa e efeito, devido ao sentimento de ameaça constante, e sua necessidade de se salvaguardar. Renato precisa desesperadamente antever os perigos, e consequentemente vive sob a chave da adaptação prévia as situações, sem poder cultivar uma postura criativa e livre nelas. Estas observações das brincadeiras e dos comentários de Renato revelam que o mundo por ele habitado é fortemente marcado pela ameaça e pela tragédia.
A integridade física e a harmonia entre as relações são, em seu mundo, vividas em seu oposto, num cenário de guerra e destruição. Quando me refiro ao termo mundo, me refiro a esta “(...) estrutura de relacionamentos importantes no qual uma pessoa existe e de cujo plano participa” (May, p.135). Neste sentido, o quadro geral do mundo de Renato se revela tendo estas qualidades, tragicamente invertidas em insucessos e aniquilamento de gestos potenciais.
Os elementos em suas brincadeiras, e também sua reticência em me incluir em suas brincadeiras, indicam que está ameaçada também a possibilidade de lançar-se com segurança às relações. Alguns exemplos disso aparecem nas brincadeiras em que um carro de polícia de maneira “barbeira” (sic) atropela uma pessoa morta, e fere outro polícia. Seu comentário é bastante ilustrativo: “como que ela fala para não fazer e faz?”. Outra vez, brincando com os carros “de corrida” (sic), entendeu por que os motoristas se “estrepam” (sic): “Eles dirigem olhando para trás!”. As figuras de autoridade, ou aquelas responsáveis pela segurança, frequentemente nas brincadeiras realizavam atos impróprios e violentos e contrários ao que seus papéis prescrevem.
Neste quadro vivencial, onde a catástrofe impera no mundo de Renato, seu relacionamento com os outros tem a quebra de confiança como qualidade mais presente. Podemos pensar que sua insegurança nas relações, seu desamparo frente as situações ameaçadoras da vida, o leva a não conseguir desenvolver-se nas suas potencialidades e permitir-se ser afetado pela presença do outro, que é experimentado por ele como sendo agressivo, violento, incoerente e desestruturador. Sua incapacidade em aprender na escola certamente revela sua dificuldade em envolver-se com os outros e consequentemente com as atividades propostas.
O sentido de sua dificuldade escolar ficava patente quando oferecia a ele desenhar. Sempre negava dizendo que não gostava, e que achava muito difícil. Certa vez, fez referência a um primo seu que conseguia desenhar tudo que vinha a cabeça, coisa que não acontecia com ele. Dizia que achava que desenhava mal. Nunca foi uma atividade por ele escolhida. As poucas vezes em que pedi para que ele desenhasse, utilizava bastante a régua e a borracha, ou recomeçava diversas vezes numa nova folha. Chegou a usar o outro lado da folha como rascunho. Se pensarmos na dimensão Eigenwelt do mundo vivido por Renato, constatamos que sua percepção de si mesmo revela um forte sentimento de incapacidade, e neste sentido, o que lhe é proposto é vivido com muita dificuldade e com um sentimento de fracasso iminente. Sua auto-exigência compreensivelmente aumenta, e sua auto-estima diminui.
Ao mesmo tempo, dentro deste mesmo recorte Eigenwelt de seu mundo, é impressionante sua capacidade de compreender o significado dos acontecimentos ao seu redor. Muito lúcido, certa vez comentou comigo que achava engraçado que seu primo, que sempre escovava os dentes, tinha cáries e que ele, que não escovava, não tinha. Em diversas outras situações, sempre que surgiam famílias em suas brincadeiras, eram sempre “loucas”. Numa dessas brincadeiras, perguntei o porque, e ele me respondeu que era porque os filhos não “eram humanos”.
O aspecto trágico revelado em suas brincadeiras, também se apresenta quando observamos como Renato vive a dimensão da temporalidade e espacialidade em sua vida. Se os acontecimentos em sua vida tem o caráter de ameaça constante, e a insegurança de lançar-se livremente às situações predomina, seus gestos são interrompidos pela tragédia e embotam, e seu vir-a-ser se transforma em imobilidade. Um exemplo disso apareceu quando trabalhamos com argila. Renato demonstrou bastante interesse por este material. A argila tomou uma forma parecida com a de um “ovo de páscoa” e resolveu colocar uma moto dentro do ovo, e a recobriu com sua outra metade. Ficou bastante tempo num esforço de recobrir a moto completamente e fez o seguinte comentário: “Deve ser horrível para um motoqueiro ficar preso .” (sic) Outra de suas brincadeiras era de recobrir o corpo, mas principalmente a face de um boneco musculoso e um cavalo de massinha. A massinha “engessava” (sic) partes do corpo quebradas, era colocado por outros que não gostavam dele e os brinquedos se sentiam ora presos, ora protegidos contra as pancadas.
Estas duas imagens produzidas por Renato na argila, falam para nós também de sua angústia frente a sua impossibilidade de ser. Ambas situações se referem a uma imobilidade, e do consequente sofrimento dos elementos não poderem exercer uma expressão livre daquilo que são, no caso, um motoqueiro poder correr em liberdade, e seres fortes e potentes sentirem-se presos e não poderem reagir às agressões. Ao mesmo tempo, todos os elementos estão protegidos numa opressão. Esta paradoxialidade chama a atenção. Há uma clara inversão de valores, que nos leva a constatar que o contexto em que Renato vive, é de fato como ele mesmo descreveu: “louco”.
Se buscarmos ir mais fundo na estruturação do mundo de Renato, na essência ou fundamento do projeto de mundo revelados por ele em quase todas as suas brincadeiras e em seus comentários, chegamos a noção de que Renato vive um mundo invertido. É na espacialidade de sua existência que vemos isto com muita clareza: Uma casa ao contrário, a proteção que oprime, a expansão que provoca tragédias. Transcrevo aqui um relato de um desenho feito por Renato que esclarece este ponto: Numa sessão orientada, pedi que ele desenhasse uma família. Renato resistiu dizendo que não sabia desenhar, mas aceitou minha proposta. “Errou” duas vezes o desenho, e na terceira folha desenhou o seguinte: Eram 5 crianças, que se diferenciavam pelos desenhos geoméricos em suas camisetas. Só uma das crianças usava “shorts” porque era “calorento” (sic). Os outros eram “friorentos”. Intervim depois que terminou perguntando sobre os pais, e ele os desenhou em cima da folha, e somente se viam seus corpos, não suas cabeças. Acrescentou um cabelo espetado no “filho menor”. Perguntei onde moravam e ele desenhou uma casa com muitos quartos onde todos tinham o seu com sua TV própria. Acrescentou que o único que dormia com os pais era o mais novo, e que os pais gostavam de assistir a filmes de terror e que era por isso que o mais novo ficava com o cabelo em pé (espetado). Estes pais eram “loucos”, e chegaram a jogar o filho que dormia com eles fora da janela porque “bagunçava demais”. Ele então passou a dormir na garagem. Este mais novo “bagunçou” depois a casa e ela foi ao chão e quando os construtores construíam-na de novo, ele “bagunçou” os construtores que a construíram de “cabeça para baixo” (sic). Neste momento, Renato riscou bastante o desenho da criança mais nova dizendo que esta tinha morrido, porém logo transformou uma outra criança (das cinco) nesta mesma criança, e disse que ela havia crescido e resolvido sair de casa. Quando voltou à casa depois de muito tempo, todos já haviam morrido, e ela permanecia por ser mais jovem que todos. Ele continuou “bagunçando” a casa, porém, desta vez, não haveria mais ninguém para reconstruí-la novamente.
Neste trabalho busquei exercitar uma reflexão fenomenológica de uma caso clinico, buscando compreender como o meu paciente Renato experimentava as dimensões ontológicas inerentes a existência. Esta reflexão orientou meu trabalho junto ao Renato e sua mãe durante os meses em que os atendi.
Bibliografia utilizada:
MAY, Rollo. A descoberta do ser: estudos sobre a psicologia existencial. Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2000
Neste sentido, é importante esclarecer que, para a análise existencial, qualquer análise antropológica deve necessariamente partir da tese ontológica de que o homem não é um sujeito que se relaciona com o mundo, mas que sua estrutura fundamental é a de ser em um mundo, de que ele é seu mundo, eliminando a distância que se criou na tese científica clássica de que há uma separação fundamental entre sujeito e objeto. Não é objetivo deste trabalho fazer uma reflexão filosófica ontológica sobre as diferenças destes pontos de partida analíticos tão distintos, mas desenvolver mais detalhadamente as unidades de sentido ou, em outras palavras, as dimensões ontológicas que utilizaremos aqui e que orientarão uma reflexão a respeito do mundo do paciente.
Estas unidades de sentido não fazem parte de um corpo teórico, nem são escolhidas aleatoriamente em uma reflexão a partir das informações colhidas do paciente. São, pelo contrário, dimensões existenciais que todo homem carrega e às quais responde, cada um à sua maneira individual. Acredito que esta reflexão por si já evidenciará as diferenças ontológicas entre o método fenomenológico e o científico metafísico, e serão uma demonstração da forma como se encaminha um uso da metodologia existencial analítica.
A seguir, faço um breve relato das primeiras entrevistas que realizei com a mãe de Renato e sua escola. Este relato ajudará na compreensão do caso que farei, onde incluo descrições dos acontecimentos em nossos encontros.
A mãe de Renato (que chamarei aqui de Sara para facilitar a leitura e preservar sua identidade real) procurou atendimento psicológico a pedido da escola com a queixa de que o filho não havia aprendido a ler e a escrever e de que era “indisciplinado” e “imaturo”. Na época, Renato tinha 7 anos de idade e cursava a segunda série do primeiro grau. A mãe relatou não ter esta percepção do filho em casa, que não reconhecia o filho que descreviam na escola, e que acreditava que sua dificuldade em aprender estava relacionada com o fato de sua professora não gostar dele. Preocupada com o fato da criança não ler e não escrever, Sara fez que Renato passasse a ter aulas particulares com uma tia da família, duas vezes por semana, uma hora por encontro. A única coisa que sabia realizar era contar de 1 a 50, mas precisava sempre começar do número 1. Contou que pediu para a escola para mudá-lo de classe por causa do relacionamento conturbado com a professora, e que não queria que Renato passasse de ano por não saber ler e escrever, mas que a escola não aceitou seus pedidos. Chegou a pensar em tirá-lo da escola, mas até o começo das sessões não o havia realizado.
Sua percepção do comportamento de Renato era a de ser uma criança às vezes “turrona”, “briguenta” e “birrenta”. Contou que Renato brigava bastante com as crianças do prédio, muito em defesa do irmão mais velho que é “quietinho”. Este irmão mais velho na época tinha 10 anos. Responsável e bom aluno, era quem cuidava do Renato quando a mãe estava trabalhando. As crianças passavam bastante tempo sozinhas em casa por ela não ter com quem deixá-los. Saía cedo de casa e só retornava à noite. Renato acabava muitas vezes não indo para a escola, pois se recusava a entrar no ônibus escolar. Na época, Sara relatou que Renato acordava a noite gritando e chamando seu irmão.
A relação de Renato com o pai (que chamarei de Tadeu) sempre foi conturbada. Separaram-se quando Renato tinha dois meses de idade. Sua gravidez não foi planejada, e foi um período bastante turbulento em sua vida. Segundo ela, Renato não foi desejado pelo pai, que queria que ela realizasse um aborto. Tadeu casou-se com outra mulher e com ela teve um filho, e só começou a ter contato com Renato quando este tinha 2 anos de idade, à época em que o garoto retornou da casa dos avós maternos no interior. Os avós maternos cuidaram de Renato dos 8 meses aos 2 anos de idade, enquanto Sara trabalhava em São Paulo.
Segundo ela, depois da separação, a causa das constantes brigas entre ela e Tadeu se devia ao fato de que este não participava da vida dos filhos, e não contribuía financeiramente para o sustento deles. Sara abriu ações judiciais contra ele com pedido de pensão, porém, no momento da entrevista, ainda não havia conseguido receber o dinheiro. Ela relatou também ter agredido Tadeu diversas vezes fisicamente, por sentir raiva por ele não ajudá-la no cuidado com os filhos. Na sua fala pude perceber que muito da comunicação entre Sara e Tadeu se dava por via dos filhos, muitas vezes de forma bastante agressiva.
Sara disse que chegou a pensar que a atual esposa de Tadeu agredia Renato fisicamente. Nas poucas vezes em que pude conversar com Tadeu por telefone, ele alegava que Sara buscava afastá-lo dos filhos e que não conseguia maior comunicação com eles por causa de sua agressividade. Sua relação com Renato acontece em alguns finais de semana por mês, geralmente de quinze em quinze dias.
Em conversa com a coordenação e com a professora de Renato à epoca, me foi descrito por ambas que Renato era “briguento” com seus colegas e professores, que tinha comportamentos de se jogar no chão, se arrastar, e comportamentos infantis para sua idade. Renato rasgava e “destruía” seus cadernos escolares e vinha sem nenhum material para escola. Chegava bastante sujo à escola, às vezes machucado pelas brigas que tinha com amigos do condomínio onde morava. Foi relatado pela professora que fugia do prédio onde tinha aulas com ela e com outros professores.
Era bastante comum pedir à professora para ir ao banheiro durante as aulas. Esta já não sabia mais como lidar com Renato, nem com sua mãe, e reconheceu ao telefone comigo que já não se dedicava mais tanto a ele em sala de aula.
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Dentro da perspectiva analítica existencial, uma investigação a respeito do modo de ser de um paciente deve necessariamente partir de uma investigação das formas como este paciente experimenta as dimensões ontológicas, ou estruturas fundamentais da existência. A seguir faço uma breve explanação das dimensões ontológicas que servirão de unidades de sentido que orientarão minha reflexão a respeito do mundo de Renato.
O mundo e suas três dimensões: Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt
Muitos analistas existenciais distinguem três mundos que caracterizam a existência do homem: Umwelt, que literalmente significa “mundo ao redor”, Mitwelt ou “mundo com” e Eigenwelt ou “mundo próprio”. A partir daqui, me basearei na reflexão aprofundada destes três mundos e das dimensões ontologicas realizada pelo analista existencial Rollo May em seu livro A descoberta do ser. Esta descrição certamente será demasiado sintética, portanto, uma compreensão a respeito destas dimensões se fará muito mais consistente a partir da leitura de seu livro.
O primeiro mundo poderia de forma simplificada ser traduzido aqui para nossa compreensão como o mundo das determinações e pela consequente adaptação. É o mundo das causas e efeitos, onde aquilo que vivemos está de alguma forma predeterminado. Para Rollo May, seria o mundo da “limitação e do determinismo biológico, o ´mundo imposto´ no qual cada um de nós foi lançado por meio da nascimento, e deve de alguma forma, ajustar-se.”(May, p.139). Já o segundo mundo, Mitwelt, é o mundo das relações entre os homens e que em sua essência, diferentemente do mundo anterior, é condicionado pela transformação mútua, pela afetação, já que é sempre vivido no contexto da diferença e das múltiplas formas em que um estar junto ao outro pode acontecer. Eigenwelt seria o mundo mais comumente conhecido como o da auto-consciencia, “é a percepção do que uma coisa qualquer no mundo (...) significa para mim.” (May, p.142) Esta seria a base sobre a qual nos relacionamos, como compreendemos o que nos acontece e como nos apropriamos disso e que encaminhamento escolhemos dar a nossa vida.
Temporalidade e espacialidade
A experiência do mundo para o homem é sempre uma experiência de espacialização e uma temporalização do seu modo de ser. Neste sentido, o tempo relativo a existência “emerge” como coloca May (p.149). “A existencia está sempre em processo de formação, sempre desenvolvendo-se no tempo, e jamais poderia ser definida em termos de pontos estáticos”. O tempo do relógio seria mais precisamente uma “espacialização do tempo”, e relaciona-se a nossa dimensão Umwelt, onde as determinações e as forças condicionadoras regem os atos. Já em Mitwelt, o mundo das relações, o tempo quantitativo ganha importância menor em relação ao significado de um acontecimento. A experiência de percepção de si próprio, ou Eigenwelt também não se relaciona com o tempo do relógio, chronos, ela é Kairós, ou tempo da significação. Neste sentido, se a existência é marcada pela qualidade de estar sempre sendo, de estar se desenvolvendo no tempo, a dimensão do futuro, ou vir-a-ser do homem, ganha uma importância maior. “um homem somente pode compreender a si próprio ao projetar-se para frente” (p.153). O passado seria do domínio de Umwelt, das contingências, do que já foi, e assim, aquilo que o indivíduo busca ser determina o que ele recorda de ter sido.
Diferentemente do espaço geométrico, que é uma construção pré-determinada, neste sentido relativa ao Umwelt, o espaço experimentado no âmbito existencial poderia ser traduzido literalmente como modo de ser. O espaço que experimentamos tem relação direta com a forma como nos relacionamos com as nossas potencialidades e limitações, e ganham qualidade na medida em que experimentamos uma abertura ou fechamento de nossas possibilidades de ser. Em Mitwelt e em Eigenwelt, o espaço ganha qualidade a partir dos acontecimentos experimentados na relação com o outro e consigo mesmo.
Angústia existencial – Ser e não ser
O significado da palavra ser é bastante complexo, e não cabe aqui neste trabalho aprofundar e ampliar uma compreensão a seu respeito, porém, para os objetivos deste trabalho, é importante colocar que podemos simplificar sua compreensão citando uma frase de May: “ser é a potencialidade pela qual a semente se torna uma árvore ou cada um de nós se torna aquilo que realmente é” (p.105) Porém, não-ser é parte inseparável do ser. A consciência das ameaças ao ser, de que a existência é frágil, de que nossas potencialidades podem estar comprometidas, e cuja expressão mais contundente é a própria morte, é que produz vitalidade e sentido, e também um “fortalecimento da consciência de si mesmo, de seu mundo e dos outros ao seu redor.” (p.116)
Esta compreensão da possibilidade do não-ser é a base na qual se sustenta o que chamamos aqui de angústia existencial. Diferentemente do medo, que tem uma expressão objetiva e relaciona-se a algo específico, a angústia é a expressão da condição humana. A vivência da angústia, que tem sua raiz na angústia existencial, aparece no momento em que alguma potencialidade surge diante do homem, mas esta possibilidade surge enquanto ameaça.
***
Nos meus encontros com Renato, me chamava a atenção que todos os elementos em suas brincadeiras sempre terminavam em explosão, colisão, desmembramento e morte. Carros que se chocavam incessantemente, postos de gasolina e caixa lúdica eram explodidas, pernas cabeças e braços lançados ao ar. Brincava de tirar os membros dos corpos, e de espancar os bonecos e lançá-los longe. Tinha muita dificuldade em participar com ele das brincadeiras, uma vez que tudo sempre tinha um fim trágico muito rapidamente. Era como se qualquer expressão que se esboçasse por parte de qualquer elemento fosse interrompida de forma violenta.
Ao mesmo tempo, Renato demonstrava ter muita consciência dos perigos, e era muito presente na sua fala, expressões do tipo “Se... então...”. Alguns exemplos disso: Certa vez observou que um boneco, porque estava sem camisa, se caísse poderia se machucar, outra, de que a faísca de um dos carros da caixa lúdica (que tem um mecanismo de faísca interno) não estivesse “fechada” dentro do corpo do carro, ela poderia produzir fogo.
Começamos a ver que o mundo de Renato é regido fortemente pela impossibilidade de uma expressão livre, e que esta expressão pudesse adquirir algum desenvolvimento e amadurecimento. Esta expressão ou potencialidade foi sempre marcada pela interrupção. Podemos pensar que a sua liberdade de poder ser está fortemente comprometida. Neste sentido, a dimensão Umwelt, das determinações, ganha em sua vivência, uma predominância, e sua relação com os acontecimentos da vida, passam a ser do tipo causa e efeito, devido ao sentimento de ameaça constante, e sua necessidade de se salvaguardar. Renato precisa desesperadamente antever os perigos, e consequentemente vive sob a chave da adaptação prévia as situações, sem poder cultivar uma postura criativa e livre nelas. Estas observações das brincadeiras e dos comentários de Renato revelam que o mundo por ele habitado é fortemente marcado pela ameaça e pela tragédia.
A integridade física e a harmonia entre as relações são, em seu mundo, vividas em seu oposto, num cenário de guerra e destruição. Quando me refiro ao termo mundo, me refiro a esta “(...) estrutura de relacionamentos importantes no qual uma pessoa existe e de cujo plano participa” (May, p.135). Neste sentido, o quadro geral do mundo de Renato se revela tendo estas qualidades, tragicamente invertidas em insucessos e aniquilamento de gestos potenciais.
Os elementos em suas brincadeiras, e também sua reticência em me incluir em suas brincadeiras, indicam que está ameaçada também a possibilidade de lançar-se com segurança às relações. Alguns exemplos disso aparecem nas brincadeiras em que um carro de polícia de maneira “barbeira” (sic) atropela uma pessoa morta, e fere outro polícia. Seu comentário é bastante ilustrativo: “como que ela fala para não fazer e faz?”. Outra vez, brincando com os carros “de corrida” (sic), entendeu por que os motoristas se “estrepam” (sic): “Eles dirigem olhando para trás!”. As figuras de autoridade, ou aquelas responsáveis pela segurança, frequentemente nas brincadeiras realizavam atos impróprios e violentos e contrários ao que seus papéis prescrevem.
Neste quadro vivencial, onde a catástrofe impera no mundo de Renato, seu relacionamento com os outros tem a quebra de confiança como qualidade mais presente. Podemos pensar que sua insegurança nas relações, seu desamparo frente as situações ameaçadoras da vida, o leva a não conseguir desenvolver-se nas suas potencialidades e permitir-se ser afetado pela presença do outro, que é experimentado por ele como sendo agressivo, violento, incoerente e desestruturador. Sua incapacidade em aprender na escola certamente revela sua dificuldade em envolver-se com os outros e consequentemente com as atividades propostas.
O sentido de sua dificuldade escolar ficava patente quando oferecia a ele desenhar. Sempre negava dizendo que não gostava, e que achava muito difícil. Certa vez, fez referência a um primo seu que conseguia desenhar tudo que vinha a cabeça, coisa que não acontecia com ele. Dizia que achava que desenhava mal. Nunca foi uma atividade por ele escolhida. As poucas vezes em que pedi para que ele desenhasse, utilizava bastante a régua e a borracha, ou recomeçava diversas vezes numa nova folha. Chegou a usar o outro lado da folha como rascunho. Se pensarmos na dimensão Eigenwelt do mundo vivido por Renato, constatamos que sua percepção de si mesmo revela um forte sentimento de incapacidade, e neste sentido, o que lhe é proposto é vivido com muita dificuldade e com um sentimento de fracasso iminente. Sua auto-exigência compreensivelmente aumenta, e sua auto-estima diminui.
Ao mesmo tempo, dentro deste mesmo recorte Eigenwelt de seu mundo, é impressionante sua capacidade de compreender o significado dos acontecimentos ao seu redor. Muito lúcido, certa vez comentou comigo que achava engraçado que seu primo, que sempre escovava os dentes, tinha cáries e que ele, que não escovava, não tinha. Em diversas outras situações, sempre que surgiam famílias em suas brincadeiras, eram sempre “loucas”. Numa dessas brincadeiras, perguntei o porque, e ele me respondeu que era porque os filhos não “eram humanos”.
O aspecto trágico revelado em suas brincadeiras, também se apresenta quando observamos como Renato vive a dimensão da temporalidade e espacialidade em sua vida. Se os acontecimentos em sua vida tem o caráter de ameaça constante, e a insegurança de lançar-se livremente às situações predomina, seus gestos são interrompidos pela tragédia e embotam, e seu vir-a-ser se transforma em imobilidade. Um exemplo disso apareceu quando trabalhamos com argila. Renato demonstrou bastante interesse por este material. A argila tomou uma forma parecida com a de um “ovo de páscoa” e resolveu colocar uma moto dentro do ovo, e a recobriu com sua outra metade. Ficou bastante tempo num esforço de recobrir a moto completamente e fez o seguinte comentário: “Deve ser horrível para um motoqueiro ficar preso .” (sic) Outra de suas brincadeiras era de recobrir o corpo, mas principalmente a face de um boneco musculoso e um cavalo de massinha. A massinha “engessava” (sic) partes do corpo quebradas, era colocado por outros que não gostavam dele e os brinquedos se sentiam ora presos, ora protegidos contra as pancadas.
Estas duas imagens produzidas por Renato na argila, falam para nós também de sua angústia frente a sua impossibilidade de ser. Ambas situações se referem a uma imobilidade, e do consequente sofrimento dos elementos não poderem exercer uma expressão livre daquilo que são, no caso, um motoqueiro poder correr em liberdade, e seres fortes e potentes sentirem-se presos e não poderem reagir às agressões. Ao mesmo tempo, todos os elementos estão protegidos numa opressão. Esta paradoxialidade chama a atenção. Há uma clara inversão de valores, que nos leva a constatar que o contexto em que Renato vive, é de fato como ele mesmo descreveu: “louco”.
Se buscarmos ir mais fundo na estruturação do mundo de Renato, na essência ou fundamento do projeto de mundo revelados por ele em quase todas as suas brincadeiras e em seus comentários, chegamos a noção de que Renato vive um mundo invertido. É na espacialidade de sua existência que vemos isto com muita clareza: Uma casa ao contrário, a proteção que oprime, a expansão que provoca tragédias. Transcrevo aqui um relato de um desenho feito por Renato que esclarece este ponto: Numa sessão orientada, pedi que ele desenhasse uma família. Renato resistiu dizendo que não sabia desenhar, mas aceitou minha proposta. “Errou” duas vezes o desenho, e na terceira folha desenhou o seguinte: Eram 5 crianças, que se diferenciavam pelos desenhos geoméricos em suas camisetas. Só uma das crianças usava “shorts” porque era “calorento” (sic). Os outros eram “friorentos”. Intervim depois que terminou perguntando sobre os pais, e ele os desenhou em cima da folha, e somente se viam seus corpos, não suas cabeças. Acrescentou um cabelo espetado no “filho menor”. Perguntei onde moravam e ele desenhou uma casa com muitos quartos onde todos tinham o seu com sua TV própria. Acrescentou que o único que dormia com os pais era o mais novo, e que os pais gostavam de assistir a filmes de terror e que era por isso que o mais novo ficava com o cabelo em pé (espetado). Estes pais eram “loucos”, e chegaram a jogar o filho que dormia com eles fora da janela porque “bagunçava demais”. Ele então passou a dormir na garagem. Este mais novo “bagunçou” depois a casa e ela foi ao chão e quando os construtores construíam-na de novo, ele “bagunçou” os construtores que a construíram de “cabeça para baixo” (sic). Neste momento, Renato riscou bastante o desenho da criança mais nova dizendo que esta tinha morrido, porém logo transformou uma outra criança (das cinco) nesta mesma criança, e disse que ela havia crescido e resolvido sair de casa. Quando voltou à casa depois de muito tempo, todos já haviam morrido, e ela permanecia por ser mais jovem que todos. Ele continuou “bagunçando” a casa, porém, desta vez, não haveria mais ninguém para reconstruí-la novamente.
Neste trabalho busquei exercitar uma reflexão fenomenológica de uma caso clinico, buscando compreender como o meu paciente Renato experimentava as dimensões ontológicas inerentes a existência. Esta reflexão orientou meu trabalho junto ao Renato e sua mãe durante os meses em que os atendi.
Bibliografia utilizada:
MAY, Rollo. A descoberta do ser: estudos sobre a psicologia existencial. Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2000
Grupo de pós-parto - para mães e bebês
Venham participar do
Grupo de encontro e acolhimento de mulheres no pós parto Um grupo de mulheres que, como você, acabaram de experienciar a chegada do seu bebê. A troca, neste momento intenso e cheio de novidades, além de rica é reconfortante; ajuda a apaziguar a solidão, as dúvidas, os medos e anseios tão comuns neste momento da vida.
Como é o grupo?
No grupo de encontro e acolhimento no pós parto...
...você encontrará outras mães, que estão na mesma situação que você! Todo mundo troca dicas e compartilha experiências sobre a maternidade.
...as dúvidas, angústias e dificuldades presentes neste momento encontram respostas e acolhimento.
...são discutidos temas relativos a maternidade e a este momento tão especial da vida.
...os bebês são mais que bem-vindos!
No grupo, vc encontra informação e apoio de mãe pra mãe, com a coordenação da psicóloga Cristina Toledano, especialista no atendimento de mulheres no pós parto.
Quando acontece?
Toda 2a feira, das 14 as 16 hs. (exceto feriados)
Onde fica?
Espaço Nascente
Rua Grajaú, 599 (Próximo ao metrô Sumaré).
(11) 3672-6561
(11) 2548-6383
espaconascente@gmail.com
Investimento:
R$20,00 por encontro avulso, e, pagando 4 encontros antecipadamente, o 5o é
gratuito.
IMPORTANTE: estes 5 encontros não precisam ser sequenciais, ou seja,
se não der para vir em um, não tem problema, o crédito permanece válido. Pede-se
que todo pagamento seja feito na secretaria do Espaço Nascente, diretamente com
a Daniela.
***A inscrição inclui os participantes numa lista de discussão do espaço que
coloca a todos os pais e mães em contato para trocar informações, dicas,
promover encontros e para discutir assuntos relativos a esta nova fase da vida,
além de os manter informados dos cursos e atividades do espaço.
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curriculum vitae
Cristina Toledano dos Santos
Psicóloga clínica / doula no parto e pós parto / coordenadora de grupos de pós parto
CRP 77521
Consultório: Rua Aimberé, 1731, Sumarezinho, São Paulo (SP)
cristoledano@hotmail.com tel (11) 3865-7557 cel (11) 9966-2314
Área de interesse
Psicologia
Formação acadêmica
• 2000–2004 – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): Bacharelado em Psicologia
• 1983- 1999 – Graded School of São Paulo (Associação Escola Graduada de São Paulo): American and Brazilian diploma (ensino médio)
•2005 - Aprimoramento clínico-institucional da clínica Ana Maria Popovic (PUC-SP) com monografia sobre o acompanhar na clínica daseinsanalíticaFormação complementar
•2007-2008 – Curso online de humanização do parto e nascimento da ONG Amigas do Parto.
•2007 -Curso de expansão cultural “Da gravidez ao bebê” – teoria e prática numa abordagem corporal – (SEDES SAPIENTIAE)- 31 hs
•2007 – Curso de capacitação de doulas (acompanhante do parto) da Associação Nacional de Doulas (ANDO) – 32 hs
•2002–2004 – “A Poética do espaço de Gaston Bachelard”, grupo de estudos coordenado pelo Professor e psicólogo Nichan Dichtchekenian (PUC-SP).
•2003 - “Ser e tempo” de Martin Heidegger, grupo de estudos coordenado pelo professor e filósofo Juliano Pessanha (USP)
•2001 - Conclusão do Curso de espanhol da PUC-SP
•1997–1999 – International Baccalaureate Certificate for English, Portuguese Spanish e Estudos Brasileiros
•1996 – Creative Writing Course at University of Utah (Curso avançado de redação) .
EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
- clínica psicológica particular
- acompanhamento de gestantes, partos, e puérperas.
- coordenação de grupos de pós parto
-Psicoblue - psicologia, fonoaudiologia e nutrição
Área: Psicologia clínica
Atividade: Atendimento psicológico de crianças, jovens e adultos
Período: Abril/ 2008 a Outubro/ 2010
- Graded School of São Paulo
Área: Educação.
Atividade: Auxiliar de ensino de 1º Série do Ensino Fundamental.
Período: Agosto/2002 a Agosto/ 2009.
- Aulas particulares de inglês para crianças.
Área: Educação
Período: Agosto/1999 a Junho/2006 .
- Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” – PUC-SPÁrea: Psicologia Clínica
Atividade: Atendimento individualPeríodo: Março/2004 a Dezembro/2004
- Creche Nossa Senhora do Rosário
Área: Psicologia Educacional
Atividade: Brinquedoteca com crianças do berçário (10 meses a 1 ano e meio) e construção de um berçário pedagógico.
Período: Março/2004 a Dezembro/2004
- Nido Asilo Spazio Bambino.Área: Educação Infantil.
Atividade: Estágio em escola montessoriana em Mantova - Itália.
Período: Janeiro de 2003.
- Unidade Básica de Saúde da Vila Romana.Área: Psicologia da Saúde
Atividade: Grupo de Planejamento Familiar.
Período: Março/2003 a Julho/2003
- Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” – PUC-SPÁrea: Psicologia Clínica
Atividades: Psicodiagnóstico de Adulto
Período: Março/2003 a Julho/2003
- Abrigo Tia Julieta Área: Psicologia Educacional
Atividades: Grupo de sexualidade com adolescentes.
Período: Agosto/2003 a Dezembro/2003
PESQUISAS
- Trabalho de Conclusão de Curso
Título: As máscaras dos homens – Anúncio e ampliação das possibilidades de Ser
Orientadora: Ana Laura Schliemann
Parecerista: Nichan Dichtchekenian
Período: Fevereiro/2004 a Novembro/2004
- Iniciação Científica – PIBIC
Título: Sentidos subjetivos de mulheres com mioma uterino sintomático
Entidade financiadora: CNPQ
Orientadora: Edna Maria Peters Kahhale (Psicóloga e Professora Doutora da PUC – SP)
Período: Agosto/2002 a Julho/2004
PRÊMIOS
- Award for Excellence in Spanish - Maio de 1999.
MONITORIA
- Monitora de Fenomenologia - Existencial
Professor: Nichan Dietchkenian (Psicologo PUC-SP)
Período: Agosto/2003 a Dezembro/2003.
- Monitora de Teologia
Professor: Maria Celina de Queirós Nasser (Teóloga e Filósofa PUC-SP)
Período: Janeiro/2003 a Dezembro/2003
CONGRESSOS, JORNADAS E ENCONTROS
- 13º Encontro de Iniciação Científica da PUC-SP.
Atividade: Apresentação da Pesquisa “Sentido subjetivo de mulheres com mioma uterino sintomático” em painel e sessão coordenada.
Período: 20 de outubro de 2004.
Local: PUC-SP
- 12º Encontro de Iniciação Científica da PUC-SP.
Atividade: Apresentação da Pesquisa “Sentido subjetivo de mulheres com mioma uterino sintomático” em painel e sessão coordenada.
Período: 22 de outubro de 2003.
Local: PUC-SP
- II Jornada Paulista sobre o Luto
Qualidade de participante
Período: 27 a 29 de Setembro de 2002.
Local: São Paulo / S.P. / Brasil
- I Mostra de Estágios em Psicologia Organizacional, Psicologia Social do Trabalho e Saúde do Trabalhador da Faculdade de Psicologia da PUC- SP
Atividade: Apresentação de painel referente as atividades realizadas durante o 2o semestre letivo de 2003
Período: 2o semestre de 2003
Local: PUC-SP
Publicação
Toledano, Cristina; Ayer, Maurício; Faria, Glauco. Em busca de um parto digno. In: revista Fórum: outro mundo em debate, São Paulo, setembro de 2007, n.54, p.34-36.
Cristina Toledano dos Santos
Psicóloga clínica / doula no parto e pós parto / coordenadora de grupos de pós parto
CRP 77521
Consultório: Rua Aimberé, 1731, Sumarezinho, São Paulo (SP)
cristoledano@hotmail.com tel (11) 3865-7557 cel (11) 9966-2314
Área de interesse
Psicologia
Formação acadêmica
• 2000–2004 – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): Bacharelado em Psicologia
• 1983- 1999 – Graded School of São Paulo (Associação Escola Graduada de São Paulo): American and Brazilian diploma (ensino médio)
•2005 - Aprimoramento clínico-institucional da clínica Ana Maria Popovic (PUC-SP) com monografia sobre o acompanhar na clínica daseinsanalíticaFormação complementar
•2007-2008 – Curso online de humanização do parto e nascimento da ONG Amigas do Parto.
•2007 -Curso de expansão cultural “Da gravidez ao bebê” – teoria e prática numa abordagem corporal – (SEDES SAPIENTIAE)- 31 hs
•2007 – Curso de capacitação de doulas (acompanhante do parto) da Associação Nacional de Doulas (ANDO) – 32 hs
•2002–2004 – “A Poética do espaço de Gaston Bachelard”, grupo de estudos coordenado pelo Professor e psicólogo Nichan Dichtchekenian (PUC-SP).
•2003 - “Ser e tempo” de Martin Heidegger, grupo de estudos coordenado pelo professor e filósofo Juliano Pessanha (USP)
•2001 - Conclusão do Curso de espanhol da PUC-SP
•1997–1999 – International Baccalaureate Certificate for English, Portuguese Spanish e Estudos Brasileiros
•1996 – Creative Writing Course at University of Utah (Curso avançado de redação) .
EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
- clínica psicológica particular
- acompanhamento de gestantes, partos, e puérperas.
- coordenação de grupos de pós parto
-Psicoblue - psicologia, fonoaudiologia e nutrição
Área: Psicologia clínica
Atividade: Atendimento psicológico de crianças, jovens e adultos
Período: Abril/ 2008 a Outubro/ 2010
- Graded School of São Paulo
Área: Educação.
Atividade: Auxiliar de ensino de 1º Série do Ensino Fundamental.
Período: Agosto/2002 a Agosto/ 2009.
- Aulas particulares de inglês para crianças.
Área: Educação
Período: Agosto/1999 a Junho/2006 .
- Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” – PUC-SPÁrea: Psicologia Clínica
Atividade: Atendimento individualPeríodo: Março/2004 a Dezembro/2004
- Creche Nossa Senhora do Rosário
Área: Psicologia Educacional
Atividade: Brinquedoteca com crianças do berçário (10 meses a 1 ano e meio) e construção de um berçário pedagógico.
Período: Março/2004 a Dezembro/2004
- Nido Asilo Spazio Bambino.Área: Educação Infantil.
Atividade: Estágio em escola montessoriana em Mantova - Itália.
Período: Janeiro de 2003.
- Unidade Básica de Saúde da Vila Romana.Área: Psicologia da Saúde
Atividade: Grupo de Planejamento Familiar.
Período: Março/2003 a Julho/2003
- Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” – PUC-SPÁrea: Psicologia Clínica
Atividades: Psicodiagnóstico de Adulto
Período: Março/2003 a Julho/2003
- Abrigo Tia Julieta Área: Psicologia Educacional
Atividades: Grupo de sexualidade com adolescentes.
Período: Agosto/2003 a Dezembro/2003
PESQUISAS
- Trabalho de Conclusão de Curso
Título: As máscaras dos homens – Anúncio e ampliação das possibilidades de Ser
Orientadora: Ana Laura Schliemann
Parecerista: Nichan Dichtchekenian
Período: Fevereiro/2004 a Novembro/2004
- Iniciação Científica – PIBIC
Título: Sentidos subjetivos de mulheres com mioma uterino sintomático
Entidade financiadora: CNPQ
Orientadora: Edna Maria Peters Kahhale (Psicóloga e Professora Doutora da PUC – SP)
Período: Agosto/2002 a Julho/2004
PRÊMIOS
- Award for Excellence in Spanish - Maio de 1999.
MONITORIA
- Monitora de Fenomenologia - Existencial
Professor: Nichan Dietchkenian (Psicologo PUC-SP)
Período: Agosto/2003 a Dezembro/2003.
- Monitora de Teologia
Professor: Maria Celina de Queirós Nasser (Teóloga e Filósofa PUC-SP)
Período: Janeiro/2003 a Dezembro/2003
CONGRESSOS, JORNADAS E ENCONTROS
- 13º Encontro de Iniciação Científica da PUC-SP.
Atividade: Apresentação da Pesquisa “Sentido subjetivo de mulheres com mioma uterino sintomático” em painel e sessão coordenada.
Período: 20 de outubro de 2004.
Local: PUC-SP
- 12º Encontro de Iniciação Científica da PUC-SP.
Atividade: Apresentação da Pesquisa “Sentido subjetivo de mulheres com mioma uterino sintomático” em painel e sessão coordenada.
Período: 22 de outubro de 2003.
Local: PUC-SP
- II Jornada Paulista sobre o Luto
Qualidade de participante
Período: 27 a 29 de Setembro de 2002.
Local: São Paulo / S.P. / Brasil
- I Mostra de Estágios em Psicologia Organizacional, Psicologia Social do Trabalho e Saúde do Trabalhador da Faculdade de Psicologia da PUC- SP
Atividade: Apresentação de painel referente as atividades realizadas durante o 2o semestre letivo de 2003
Período: 2o semestre de 2003
Local: PUC-SP
Publicação
Toledano, Cristina; Ayer, Maurício; Faria, Glauco. Em busca de um parto digno. In: revista Fórum: outro mundo em debate, São Paulo, setembro de 2007, n.54, p.34-36.
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