A hora do encontro, é também despedida
Quando nasce um filho, a nossa vida muda. Para algumas drasticamente, para outras menos, mas ter um filho sempre implica alguma transformação. Ter um filho é a expressão mais contundente da novidade...
Aquilo que era, até então, precisa ceder lugar para o novo, e este movimento dificilmente é liso e tranquilo. Me vem à cabeça uma palavra que eu acho que descreve a intensidade e a extrema delicadeza deste momento: vive-se no pós-parto um luto. Sim, um luto. Luto por um modo da gente viver a vida que não encontra mais possibilidade de ser como era. Pode parecer esquisito e paradoxal falar em morte num momento em que o nascimento é o grande protagonista, mas é exatamente este paradoxo que está presente, e que se mostra, na calada da noite, no desconforto da dedicação ininterrupta com os cuidados com o bebê, nos desejos de reter (re-ter, ou ter novamente) a vida que era, tudo isso, muitas vezes vivido solitariamente no silêncio do nosso íntimo.
A expressão “baby blues” do inglês, que traduzo aqui como tristeza materna, é um sentimento que nasce deste drama que a mulher vive. Este sentimento é, muitas vezes, indesejado e mal compreendido. A recém-mãe se assusta ao se ver triste, e muitas vezes se culpa por sentir-se assim. Como posso estar triste num momento alegre como este?
Se olharmos com cuidado e carinho para o verdadeiro significado deste momento, e todas as implicações que ele tem concretamente nas nossas vidas, esta tristeza se mostra como sendo legítima e compreensível, pois o que está se dando, de fato na experiência desta mulher, é uma enorme mudança. Uma passagem que exige um deixar ir, quase sempre lento e sofrido, mas que aos poucos, se lhe é permitida sua expressão, o seu pranto, pode abrir-se para o novo, pois ao que foi, deu-se o seu devido lugar de valor. Vive-se um luto, e todo luto é despedida.
Choramos porque fomos felizes.
Assim, para receber bem, é preciso deixar ir... na alegria e perplexidade diante do nascimento, dois lados da mesma moeda, de uma mesma mulher, de uma nova mulher, que renasce inteira porque pode dizer adeus.
Como diz nosso querido Milton Nascimento: “A hora do encontro é também despedida. A plataforma da estação é a vida”.
Um beijo com carinho,
Cris Toledano
A vida é bonita, né?! Mesmo difícil. Que lindo texto. :)
ResponderExcluirCom certeza...Obrigada querida.
ExcluirQue clareza ao transformar em palavras sentimentos tão profundos que só quem passou sabe bem, dificil de explicar e mais sofrido ainda ao não ser compreendida, adorei o texto. Bjs
ResponderExcluirDescobri agora seu comentário...(!) Obrigada querida, a incompreensão acho que é a parte mais difícil mesmo. Mas um dia quem sabe esses processos tão verdadeiros e importantes possam ser cada vez mais assumidos por todos nós, enquanto humanidade. Bjs Cris
Excluircris, você é incrível. que bom que durante a minha despedida de mim, encontrei você e toda sua sensibilidade! é muito bom ter um pouco de você na nova eu. bjos carinhosos!
ResponderExcluir...E eu, a sorte de ter podido acompanhar essa sua transformação. Eu me transformo também! Bjs Cris
ExcluirOi, você não me conhece
ResponderExcluirAchei agora este texto. Que lindo e perfeito. Luto, foi a palavra que a Betina usou quando conversei com ela sobre as minhas questões na consulta pós-parto. Luto pareceu tão forte e ao mesmo tempo casava tão bem, explicava tão bem, me ajudou a entender parte do que eu sinto. Parte de um todo que ainda procuro entender. Creio que a maternidade traz vários lutos...
Divido um pedacinho das minhas reflexões de puerpério: http://quadrantedelta.blogspot.com.br/2013/03/carta-ao-meu-filho-cuidador.html
Fiquei com vontade de ir ao grupo de pós parto no espaço nascente, mas sempre que tento não consigo. Só tem de segunda? Ou acontece em outros dias em algum lugar?
Obrigada
Paula
Oi Paula, estou a bastante tempo distante do blog, mas tenho vontade de voltar a mexer nele! Que bom que meu texto conversou com vc... vou dar uma lida no seu blog tmb. Um beijo querida, pena que só pude entrar em contato com vc agora... bjs com carinho, Cris
ResponderExcluir