Sobre os conselhos,
comentários e julgamentos no pós-parto
Acho que uma das coisas que ouço os pais mais reclamarem nos
grupos de pós-parto é sobre as falas dos outros a respeito de suas escolhas e
modos de agir com seus filhos e filhas. Queria fazer um recorte sobre este tema
– que é super amplo, e que dá muito pano pra manga – e aprofundar em um aspecto
que acho importante.
O casal, ou a mãe, muito provavelmente estão vivendo a
chegada de um(a) filh@ pela primeira vez e, se não, ainda assim, cada filho é
um filho, e somos sempre diferentes a cada nova experiência. Usei a palavra experiência não à toa. A
experiência, o experimentar, acaba, muitas vezes, sendo obscurecido debaixo da
enxurrada de conselhos, comentários e julgamentos que caem sobre vossas
cabeças... e quando eles vêm, fecha o tempo. Acaba a brincadeira e pode vir a raiva, o medo, a
insegurança.
Qualquer semelhança com o universo infantil não é mera
coincidência... a gente pode, pela culpa e pela raiva, perder de vista o que
exatamente está se dando e que, aliás, é o essencial: que nós possamos
experimentar modos de ser e chegar às nossas próprias descobertas. Os conselhos
e comentários podem até nos servir de referência, porém, de nada servem se não
pudermos senti-los adequados a nós, e isso só se dá por meio do nosso contato
real com a experiência. Senão é mera reprodução.
Se tem uma coisa que a criança desperta e continuará
despertando em seus pais é a novidade. Porque que então, os pais deveriam saber
como ser? E uma vez sendo alguma coisa, dentre tantas possibilidades, ela
também não pode ser uma via de conhecimento, válida e legítima? E qual o
problema em rever tudo depois, reinventar, a partir de necessidades ou
sentimentos reais? Não é assim que os cientistas e artistas – exploradores por
excelência – são e agem?
Se pudermos cultivar o ser explorador em nós, também
acolheremos essa possibilidade em nossos filhos, que desde cedo são exatamente
assim: pequenos descobridores, que desbravam essa aventura que é a vida. E
quantos tesouros eles desvendam... Certo e errado, bom e mal, ganham
consistência assim. Não porque me disseram, mas porque descobri assim.
Ampliam-se assim as possibilidades de estar na vida, e ganha-se algo precioso:
a maturidade.
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