5o texto no Portal Uma Mãe das Arábias
Ser mãe é um ato de generosidade e coragem
Pra muitas, este domingo foi o primeiro dia das mães, já com
seus bebês no colo. Para muitas outras, foi com o bebê na barriga. Mas antes da
existência desses bebês, mesmo não sendo mães ainda, uma ideia de maternidade já
desde sempre as acompanhou, seja biologicamente, por terem um corpo que as
permite gerar, seja social ou culturalmente, nas brincadeiras de boneca de
menina, na forma como a maternidade é propagada em nosso meio, na relação que
estabeleceram com suas mães desde pequenas, ou com alguém que cumpriu este
papel. Antes d@ filh@ de fato chegar, e termos de nos relacionar com eles
concretamente, a maternidade é muito mais uma potencialidade, uma ideia.
Quando o bebê de fato chega, já não é mais com a ideia de
filh@ que nos relacionamos, mas sim com alguém
de carne e osso, um alguém que não se sabe alguém ainda, mas ainda assim, com comportamentos,
necessidades e desejos. Da ideia à concretude da experiência de ser mãe, dá-se
um grande passo: vou daquilo que já está dado biológica, social e
culturalmente, para uma aceitação de uma tarefa que não terá fim; a tarefa de ser
alguém para alguém.
Há um termo bastante usado na psicologia que busca nomear
esse encontro entre mãe e bebê e a formação desta relação. Usa-se muito a
palavra vínculo, que no seu sentido
mais corriqueiro, quer dizer laço, ligação. Essa ligação, porém, não é
simplesmente biológica. Laço
sanguíneo não decreta maternidade. Ela também não é social, ter um filho não
certifica maternidade. Tampouco é simplesmente cultural, já que agir desta ou
daquela maneira não representa ser mais ou menos mãe. Isto que digo pode
parecer óbvio num primeiro momento, mas nossas dimensões sociais, culturais e
biológicas podem acabar obscurecendo o que de fato é necessário que se dê para
que haja uma relação verdadeira entre uma mãe e seu filho.
Gosto sempre de incluir uma palavrinha a mais quando me
utilizo do termo vínculo para falar da relação entre mãe e bebê. Gosto de falar
que é necessário que haja um vínculo com envolvimento.
Por quê? Justamente porque esta ligação é antes uma construção, nem algo já
dado, nem algo a ser conquistado como um fim.
Quando eu me envolvo com alguém, me aproximo dela, toco e me
deixo ser tocada. Vou conhecendo ela, e ela a mim, por todos os lados. Envolver-se
não é fácil, é topar descobrir e ser descoberto, mexer e ser mexido, é inevitavelmente
transformar e ser transformado pela presença deste alguém. Neste sentido,
envolver-se não é algo que se dá de imediato, assim que o bebê nasce puramente
por instinto. A experiência de um papel social ou a participação em um modo de
ser numa dada cultura também não garantem um envolvimento. O que promove o
envolver-se é estar aberto para a transformação. É um ato de extrema
generosidade e coragem.
Acho que a grande beleza da maternidade mora, não naquilo
que a vida biológica, social ou cultural oferece, mas no desafio de fazer-se
conhecer e abrir-se para conhecer um(a) filh@.
Um brinde a todas vocês no dia das mães pela generosidade e
coragem!
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