Marhaba! Olá!
Queria começar o primeiro dos textos que passo a escrever por aqui quinzenalmente agradecendo a Barbara Saleh, nossa querida "mãe das Arábias". Agradeço a oportunidade de falar sobre meu trabalho que tanto gosto e minhas reflexões sobre o tema do puerpério aqui com vocês. Há muito tempo tenho vontade de escrever sobre o momento do pós-parto, área na qual venho realizando um trabalho há 3 anos como coordenadora de grupos de pós-parto e atendimento psicológico de recém-mães e pais. Nestes 3 anos, pude acompanhar e aprender muito com todas as pessoas com as quais tive contato e, com essa experiência, talvez possa hoje afirmar que, o momento do pós-parto é um dos momentos onde nos sentimos mais nas Arábias!
Peço licença a Barbara pra "roubar" seu predicado e dizer a todos vocês, mães e pais e leitores do portal, que somos todos mães e pais "das Arábias". Igual a Barbara, que brasileira foi morar em terras longínquas, nós também, quando nos tornamos pais, passamos a habitar um novo lugar.
Em nossa “terra natal”, ou o momento das nossas vidas que antecedeu a chegada da maternidade e da paternidade, e de onde partimos, tudo nos era familiar. A vida tinha “um jeito” de se dar, um jeito construído por nós cotidianamente. Com a chegada de um bebê, saímos deste conforto da vida conhecida para fazer uma viagem a uma terra onde tudo é novidade, tudo é desconhecido e estranho a nós. Passamos a ser estrangeiros em nossa própria vida.
E o que vivemos quando somos estrangeiros?
Posso querer conhecer tudo ao meu redor, e sentir a alegria de ver que a vida pode ser diferente. Mas é provável que passe a perceber também que minhas referências anteriores já não dão conta de me orientar mais. Posso sentir um enorme desejo de me jogar de cabeça, de me apaixonar nessa aventura, mas posso me sentir perdido, e muitas vezes muito sozinho, pois já não me comunico com facilidade, nem me relaciono como sabia. Posso me sentir como um aventureiro, que está por conquistar novos territórios nunca dantes vistos por mim, mas posso também me sentir meio medroso, um tanto desajeitado – um esquisito. Posso sentir certa tristeza também, ao lado da alegria, porque já não tenho mais o conforto do meu lar, onde tudo ou quase tudo tinha o seu lugar. Posso querer ir adiante, mas posso querer não estar também.
Todos nós já vivemos o ser estrangeiro em momentos na nossa vida. Ser estrangeiro é ser de outro lugar, num novo lugar. Esses paradoxos não são à toa, eles são muito reais e presentes sempre que vivemos grandes mudanças. O pós-parto, para o homem e para a mulher, é justamente esta aventura onde desafiamos as leis da física e coabitamos dois mundos, o velho e o novo. A princípio, eles podem não parecer ter qualquer ligação, ou mesmo fazer muito sentido. Mas, se olharmos com cuidado, veremos que, mesmo divididos, a viagem já está se dando. Com todos seus paradoxos, é somente assim que podemos percorrer essa viagem e aos poucos incluir o novo no velho, e o velho no novo, e fazer, como brasileiros, das Arábias o nosso novo lar. Como fez a Barbara, que hoje pode nos contar com alegria das aventuras que viveu pra lá de Marrakesh...
Estarei por aqui, às terças-feiras, quinzenalmente, e toda segunda-feira, ao vivo no Espaço Nascente coordenando o grupo de pós-parto. Ficarei feliz de dialogar com vocês leitores, podem entrar em contato comigo com dúvidas ou sugestões de tema, por email ou por telefone: cristoledano@hotmail.com 11 9966-2314
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