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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Matéria revista GUIA DA MAMÃE editora casadois

Retranca: Pós Parto
Veículo: Guia da Mamãe
Edição: 2011
Texto: Karla Peralto
Fotos:

Título: Vai passar...

Olho: Após o parto, a mãe passa por adaptações e aprendizados nesta nova fase. É um processo de mudanças, mas temporário

A saída da maternidade com o bebê nos braços é a grande alegria das mães. Na verdade, uma sensação única para cada mulher. As variações hormonais que enfrentam durante e após a gravidez podem deixá-las mais frágeis e angustiadas. Os quilinhos a mais e a mudança nas formas corporais se transformam durante os nove meses e viram um “pesadelo” a ser vivenciado pelas mamães.
O primeiro passo é ter calma e não se desesperar. Afinal, é só seu corpo reagindo para voltar a ser como antes.

 (Intertítulo) A VOLTA DA BOA FORMA
Quero meu corpo de volta! Este é o principal foco após o parto. Gordurinhas localizadas, estrias, barriguinha saliente e flácida são algumas das preocupações das mulheres. Para o espelho voltar a reconhecê-la, é preciso disciplina, força de vontade e alimentação balanceada.
É normal as recém-mamães sentirem as mudanças que o corpo sofre em razão da alta atividade hormonal. As alterações não são apenas físicas, mas também de nível psicológico e todas elas se devem aos hormônios.
É preciso exercitar-se, mas como? Já que agora há um bebezinho em casa? “A dieta adequada e os exercícios físicos supervisionados por um professor de ginástica para obter melhores resultados é a melhor maneira de se chegar à satisfação”, comenta Eduardo de Souza, obstetra e professor da Universidade Federal Paulista (Unifesp).
Nas primeiras semanas, há vários tipos de atividades aeróbicas para selecionar após o parto. Se você não costumava praticar exercícios regularmente antes de engravidar, a caminhada é a melhor opção. Comece andando 20 minutos três vezes por semana e quando se sentir mais disposta aumente seu tempo.''Se este comportamento saudável permanecer durante a gestação e o pós-parto, rapidamente a mulher retornará a suas condições anteriores, mas aquela que se descuidou deverá buscar com mais empenho, no período pós-parto, a dieta mais adequada e os exercícios físicos supervisionados”, completa Souza. Quanto às dietas, ele declara que, durante o período pós-parto e principalmente durante a amamentação, a mulher deve ingerir bastante líquido, suco de frutas e adotar uma alimentação bastante variada, com carne, leite e seus derivados.
O obstetra e ginecologista Renato Kalil,membro da Federação Brasileira de Ginecologia, da American Academy Of Family Physicians destaca que, para se ter um bom retorno no pós-parto é essencial começar um bom pré-natal. “Se a mulher fez cesárea, não pode praticar exercícios pesados, mas o indicado é fazer 40 minutos de caminhada, com frequência cardíaca de 120 batimentos por minuto. Agora, se o parto foi normal, ela pode praticar todo tipo de exercícios, cuidar do corpo, cabelo e pele e assim voltar ao corpinho de antes”, justifica.
Segundo Kalil, se a gestante se cuidou desde o início, a recuperação é mais rápida. Não é incomum engordar após o parto. Isto depende muito da genética da paciente ou das características hereditárias. O máximo para se engordar em uma gestação é 9 a 11 kg. Com este peso, o resgate da boa forma torna-se mais fácil. Mas para isso, devem ser mantidas as seis refeições por dia com baixo teor de gordura e carboidratos, e priorizar as proteínas e fibras, balanceando de 1.200 a 1.400 calorias diárias”, orienta.
Ele explica que para se ter um corpo semelhante ao de antes de engravidar, o prazo para a volta a forma é três meses. Para que a cicatrização dos tecidos fiquem 100%, é preciso esperar seis meses.“Uma grande aliada na perda de peso é a amamentação. Além de ser saudável para o bebê e imunizá-lo de várias doenças, ajuda a recuperar a antiga forma. Neste momento, há perda calórica. Por isso, a mãe deve ingerir cerca de três litros de água por dia, ajudando assim a promover a diurese que naturalmente faz o corpo desinchar''.

RECUPERAÇÃO PÓS-PARTO
No parto normal, a recuperação da episiotomia (um pequeno corte entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê) dura algumas semanas e o corpo se encarrega de absorver os pontos. Na primeira semana sempre dói, mas é suportável. “Este procedimento não interfere na mobilização da mulher depois do parto. Fica dolorido de dois a três dias. Passado isso, a gestante se sente com mais liberdade de exercer as tarefas do dia a dia e a volta ao corpo de antes é mais rápida”, diz Kalil.
Já em cesareanas, a incisão é abdominal e a recuperação mais lenta; vai de quatro a seis semanas. Os pontos que não são absorvidos pelo organismo devem ser tirados em cinco dias após o parto. “A bolsa de gelo nestes casos é usada para aliviar a dor. O procedimento é feito três vezes ao dia durante 20 minutos. Isto evita e diminui o sangramento no local e não deixa cicatriz”, explica o médico da Federação.

MUDANÇAS HORMONAIS
QUEDA DE CABELO
As puérperas sofrem queda de cabelo nesse período. É quando, após o nascimento do bebê, todo o cabelo que não caiu durante a gravidez começa a cair. É comum você se assustar pensando que vai ficar careca, mas isso é perfeitamente normal. Eles cairão  no ralo, no chão, ao passar a escova, nas roupas porém, não é preciso entrar em pânico. Tudo passa, mesmo que demore um pouco. ”A queda brusca de hormônios femininos traz várias alterações no corpo da mulher, como a queda de cabelo. O indicado é tratar com vitaminas que fazem com que volte a crescer, usar xampu neutro, além disso, fazer tratamentos tópicos (medicação) e dermatológicos”, orienta Kalil.

CONTRAÇÕES
Após o parto, o útero continua a se contrair, uma necessidade do organismo para evitar o sangramento excessivo. Esse processo dá-se o nome de Globo de Segurança de Pinard, que consiste em uma contração fisiológica após a retirada da placenta e que acontece principalmente pela liberação hipofisária do hormônio ocitocina.“É comum a mãe sentir dores quando amamenta o bebê, já que a estimulação do mamilo faz com que o útero se contraia. A amamentação é fundamental para essa regressão, pois quando o bebê suga o seio materno é secretada uma substância chamada ocitocina, que além, de ser responsável pela ejeção do leite, atua contraindo o útero, reduzindo seu tamanho e o sangramento pós-parto ”,explica o obstetra.

LÓQUIOS
Durante o parto a mulher perde muito sangue, e continuará perdendo por alguns dias. Umas sangram mais outras menos. Este corrimento vaginal (lóquios) ocorre após o parto e leva aproximadamente dez dias para que o lugar onde a placenta esteve seja curado. Consiste numa secreção vermelha nos dois primeiros dias (parecido a uma menstruação forte). Depois diminui e fica marrom, passando por uma cor rosa e termina sendo esbranquiçada. Quando chegar a este ponto, você vai saber que o processo de recuperação do útero terminou. “Essa secreção ou dequitação inicia após dois a três dias após o parto e pode durar até três semanas”, ressalta o membro da Febrasgo.

DORES
Ainda nas mudanças hormonais surgem também dificuldades e ardências em urinar e dores nas genitais  em decorrência de dois fatores: a vasodilatação e o edema que fica após o nascimento do bebê.“ A uretra é sondada e, depois de retirada, ocasiona o ''trauma da sondagem''. Ao urinar dói, mas isso é normal devido ao corte. Nesta fase, há também uma queda abrupta de hormônios femininos: o líquido intravascular desce e causa ressecamento da mucosa vaginal, trazendo à tona esse incômodo. Para aliviar, basta colocar uma bolsa de gelo e usar um creme tópico indicado pelo obstetra”, alerta Kalil.
Em relação à postura, na gravidez, a mulher já sente dores na coluna devido ao peso da barriga, e muitas delas reclamam que se prolongam depois do parto. É a hiperlordose: “ algumas gestantes já têm uma postura errada antes de engravidar e depois pode piorar por causa do peso. Por isso, sempre orientamos a mãe a engordar no máximo 11 kg durante toda a gravidez. Dependendo do peso que é adquirido pela gestante, essa dor pode durar de 40 a 60 dias”, afirma Kalil.

A VOLTA DA MENSTRUAÇÃO
O fato de amamentar ou não é determinante para a volta do ciclo menstrual. Uma mulher é diferente da outra e a volta da menstruação depende de cada organismo e circunstância. “A mulher que amamenta regularmente, de três em três horas, tanto durante o dia quanto à noite, pode passar até seis meses para menstruar, ficar livre da TPM e dos absorventes. Isso, claro, depois do fim do sangramento normal pós-parto, que pode durar algumas semanas. Portanto, a amamentação está diretamente relacionada com o ciclo menstrual. Porém, às vezes, há mulheres que, mesmo amamentando, menstruam. Geralmente este fluxo é maior, mas sem motivo para uma hemorragia, resume o obstetra.

(Box) QUARENTENA
Nesta época, o útero volta aos poucos ao tamanho normal e a vida sexual do casal depende do procedimento feito pela parturiente no parto. No caso da mãe ter sofrido uma incisão no períneo, para a alargar a passagem do bebê, a cicatriz pode ser um obstáculo para a relação sexual.” Depende do procedimento cirúrgico. Se houve corte e sutura, demora cerca de oito semanas para cicatrizar. Agora, se o parto tiver sido normal, “o namoro” do casal pode começar logo”, finaliza Kalil.
No entanto, apesar de não menstruar, a ovulação ocorre normalmente. Nos 40 dias após o parto é necessária a abstinência sexual. Após, podem ser usados métodos contraceptivos, exceto os à base de estrogênio.

(Intertítulo) DEPRESSÃO
O bebê foi desejado e o quartinho foi decorado com amor e carinho pelos pais, com todo o conforto necessário para os primeiros anos de vida. Avós, tios, tias estão em estado de graça com o pequeno. Mas, toda a felicidade da mamãe pode se romper nos primeiros dias, com sensações e sentimentos confusos, que se manifestam através de tristeza, irritabilidade e sensação de incapacidade. É a depressão pós-parto batendo na porta.
Normalmente, as mulheres que a têm de forma mais aguda já tiveram um quadro parecido antes da gravidez ou a receberam hereditariamente.“O quadro deve ser tratado com antidepressivos acompanhado de um especialista. A incidência é de 20% e pode durar dois anos pós-parto. Já na mais leve, a taxa é baixa, de 10%. Na verdade, às vezes, a depressão pós-parto é confundida com pânico, quando a pessoa não pode ficar sozinha, tem medo de altura, elevador, mas não tem nada a ver com o parto”, esclarece Kalil.

A VISÃO DA ESPECIALISTA
No Grupo de Apoio Pós Parto, a psicóloga Cristina Toledano, de São Paulo, SP, orienta mulheres que estão passando por este período delicado.''A troca neste momento intenso e cheio de novidades, além de rica, é reconfortante; ajuda a apaziguar a solidão, as dúvidas, os medos e anseios tão comuns nessa época da vida”, comenta.
Os encontros são gratuitos e direcionados a mães que acabaram de vivenciar a chegada do bebê. Não é específico para a mulher com depressão pós parto, mas  aberto a todas que vivem o período. O objetivo é formar uma rede de mamães na mesma situação, que desejam passar suas experiências e aprofundar questões relativas ao assunto.''Os grupos de pós-parto ajudam muito, pois elas expressam seus sentimentos, desmistificam muitas verdades construídas a respeito de como devem ser mães e como são os bebês, propiciam a troca de dicas práticas que ajudam nos momentos difíceis e abrandam a solidão muito presente nessa hora. Os laços construídos entre elas, na maior parte das vezes, é tão forte que se formam amizades, turmas. É uma troca muito rica e amorosa”, declara.
Cristina acredita que a busca da ajuda de um terapeuta é válida. Com a terapia, a mulher vai encontrar caminhos para resgatar este sentido para sua vida que se perdeu. Muitas vezes ela não consegue dar este passo sozinha, e talvez precise da ajuda e do apoio de pessoas próximas. “As saídas vão se mostrar com o tempo e a compreensão. No final, a amorosidade e a assimilação é que restabelecem a esperança perdida e dão condições para a nova mãe enxergar as soluções'', conclui.

BABY BLUES
Ele afeta 80% das mulheres, nos primeiros 15 dias depois do parto. O nome se dá à irritabilidade emocional e ao choro que ocorrem na primeira semana após o nascimento do bebê. No livro “Bebê a Bordo – Curtindo uma gravidez a dois”, de Flávio Garcia de Oliveira, o Baby Blues é tratado como um momento transitório que tem um início súbito e rápido, em geral, de um a três dias após o parto.“É a primeira fase analisada por psiquiatras; um esgotamento físico e mental; uma insegurança por ter uma criança em casa que veio sem o manual. A mulher quer de volta, como um passe de mágica,  aquela barriguinha sarada, o bumbum levantadinho, o seio firme, mas, quando se olha no espelho, não é assim que funciona. O corpo tem um tempo normal, mas ela não se aceita e acha um ''lixo'', justifica Kalil.

VIVENDO O PÓS PARTO
Raiana Ribeiro, 23 anos, jornalista, vive este momento chamado “Baby Blues” e frequenta o grupo da psicóloga Cristina Toledano.“Procurei o grupo porque desde a gravidez queria saber tudo sobre o pós-parto. À medida que fui aprendendo, várias questões sentidas por mim ficaram mais claras quando compartilhadas com outras mulheres. No primeiro ano do bebê, a mulher vive muita solidão. O marido trabalha e você cuida do filho e acaba se isolando socialmente. Essa vivência do novo é muito particular e potencializada na introspecção com você mesma. É claro que bate a insegurança. Você pensa, será que é assim mesmo? A troca de experiências com outras mães nos faz analisar que ser mãe é a maior transformação que a mulher pode viver e vale muito a pena”, enfatiza.
A mãe de Caetano, de 1 ano e 3 meses, diz que o momento é complexo, nada fácil, mas de entrega e reflexão com ela mesma.“Ter um filho é conhecer o outro e a si mesma. É uma linda surpresa. Tudo muda e você mesma se modifica”, declara.

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