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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Perguntas e respostas sobre a Depressão Pós Parto

Respostas às perguntas da jornalista Karla Peralto para matéria sobre pós parto da revista Guia da mamãe, 1a edição, editora Casadois - 16/02/2011

1)       Quais os sintomas e motivos para uma Depressão Pós Parto?

Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que a depressão pós-parto é apenas uma das condições que podem ser vividas neste período delicado e extremamente rico do ponto de vista das emoções e questionamentos. É normal que uma mulher viva algum sofrimento e precise de ajuda nesta situação onde tudo é tão novo e mobilizador. Infelizmente, muitas das dificuldades ainda são vistas como “tabu”, pela mulher e pela sociedade.  

A depressão é uma das expressões humanas do sofrimento. Ela caracteriza o momento quando aquilo que alguém vive perde o sentido, e por isso, este alguém não encontra mais possibilidade de dar encaminhamento à sua vida. Ou seja, aquilo que era em sua vida até então não mais pode ser, e por isso a pessoa em depressão não encontra qualquer possibilidade de ser. Neste sentido, a depressão é a expressão de um modo de ser restrito, “aprisionado”, a um aspecto da vida que não pode mais ser vivido. A própria palavra traz uma imagem desta experiência: Estou num buraco, não vejo saída, e não acredito que isso possa mudar.

A chegada de um bebê implica necessariamente mudanças, é uma experiência intensa, principalmente para a mulher, em que muitas possibilidades de expressão de seu modo de viver, das quais lhe eram familiares, não mais “cabem”, não mais podem ser como eram. É uma experiência que podemos fazer um paralelo a um luto, e na depressão este luto é vivido pela pessoa como “sem fim”. O que diferencia uma depressão pós-parto e uma tristeza legítima ao momento de grandes mudanças é um profundo sentimento de impossibilidade que a mulher vive de seguir adiante, pois aquele aspecto de sua vida “morreu”, então, ela morre junto. Uma forma direta de enxergar isto, ou um sintoma bastante claro, é o aspecto de morte com o qual a pessoa se reveste, ela parece “morta”, perde sua vitalidade. Todas os comportamentos cotidianos que mantêm nossa vitalidade, como dormir, comer etc. podem ficar comprometidos.

Você deve ter percebido que fiz uma diferenciação entre depressão pós-parto e tristeza materna. Toda mulher vive, dada a circunstância de mudanças radicais na vida que a chegada de um bebê traz, uma TRISTEZA. Esta diferenciação é importante porque corremos o risco de chamar de depressão qualquer manifestação de tristeza que pode surgir no pós-parto. Se olharmos com cuidado pra este momento delicado e intenso na vida da mulher, vemos que é absolutamente compreensível que esta mulher viva uma espécie de luto após a chegada de um bebê em sua vida. Este luto faz sentido como sendo um momento de elaboração. Há sentimentos de medo, insegurança, tristeza, angústia, raiva... mas permanece ainda assim uma esperança, mesmo que turva, de que as coisas podem mudar, mesmo a pessoa não sabendo ao certo como se darão, ou como realizar estas mudanças.

Esses sentimentos em geral não são aceitos, pois se acredita que a recém-mãe deve estar em um estado de “graça”, de “perfeita alegria”, e toda essa gama de sentimentos que de fato surgem, e são extremamente comuns, entra em choque com a visão idealizada da mãe perfeita em relação com seu bebê. Acredito que essa é uma mudança radical no senso comum.
Enxergar nesta tristeza uma doença, tanto os outros como ela própria, é justamente dificultar (e no pior das hipóteses impossibilitar) que esta mulher se despeça daquilo que não mais pode ser como era, elabore o que vive e busque encaminhamentos para sua vida. Não aceitar como possível aquilo que ela verdadeiramente sente, ou entender o que sente como “inadequado” é uma das formas inclusive de gerar uma depressão. Se lhe é permitido, aos poucos e no seu tempo, aceitar o que vive e sente como sendo possível, e que tem um sentido (sempre tem!) ela muito provavelmente encontrará potência para as mudanças necessárias em sua vida, porque ser como ela é, antes de mais nada, é possível.

2)       Quanto tempo dura?
A depressão dura o tempo que a pessoa continuar morta para sua vida. Uma depressão deve ser cuidada. Ela não é do âmbito do puramente biológico, como muitas vezes lidamos com uma gripe, que tem prazo pra acabar. Cada pessoa vai viver isto de forma particular e única. É importante respeitar este tempo próprio de cada pessoa, num acompanhamento atento e cuidadoso dos movimentos que ela é capaz de fazer na vida, à medida que vai entrando em contato consigo mesma e com os sentidos implicados na sua depressão.

A tristeza é um sentimento que nos acompanha na vida, em alguns momentos especiais, não é? Sua expressão no pós-parto talvez seja mais forte no início, ou em momentos em que a delicadeza das nossas experiências nos fazem ficar mais sensíveis. Se ela for acolhida e compreendida, ela é suportável.

3) Muitas mães procuram as psicólogas?

Algumas procuram, por este momento da vida ser bastante mobilizador. É um momento de muitas mudanças, e quando se está de mudança, muitos aspectos da vida precisam encontrar um novo lugar, uma nova forma de se darem, o que muitas vezes é difícil e dolorido. Para dar alguns exemplos do que pode entrar em questão neste momento: A relação consigo e com os outros, estes outros sendo seus pais, marido, sogros, amigos; a relação com o trabalho, com seus projetos de vida, seu próprio corpo, seu ritmo de vida, seus desejos, anseios e necessidades entre muitos outros.

Outras mães acabam procurando psicólogos pela intensidade do momento, por o que tornar-se mãe provoca na experiência de vida da mulher. Isso pode favorecer uma aproximação das mulheres consigo mesmas, e o pós-parto pode “inaugurar” novos tempos pra mulher que quer estar mais próxima de si e de suas escolhas.

Os grupos de pós-parto ajudam muito, pois as mulheres expressam seus sentimentos, desmistificam muitas “verdades” construídas a respeito de como devem ser mães e como são os bebês, trocam “dicas” práticas que ajudam nos momentos difíceis, e apaziguam a solidão muito presente neste momento. Os laços construídos entre elas na maior parte das vezes é tão forte que se formam amizades, turmas. É uma troca muito rica e amorosa.

3)       A DPP pode ter sequelas graves?

Se ela não for elaborada, sim. Ela pode comprometer relações importantes na vida dessas mulheres, e agravar. Pode dificultar que ela encontre formas de estabelecer um vínculo e envolvimento com seu bebê. Porém, muitas vezes uma depressão pode também ser um gatilho para muitas mudanças potentes na vida, vai depender de como a depressão puder ser acolhida em sua vida, como uma oportunidade de entrar em contato com ela mesma, ou como uma forma de alienação de si mesma. 

4)       Como nestes casos evitar que a mãe "se irrite" com o bebê?

A irritação precisa primeiro encontrar “permissão” de existir para esta mulher. Se a mulher aceita que a irritação lhe diz algo sobre si mesma e sobre a situação na qual se encontra, ela consegue procurar saídas para ela, e encontrar formas de compreender e de lidar com a irritação, e encontrar soluções. A irritação também faz parte da maternidade, o problema é ela virar a única ou a principal forma de relação possível entre esta mulher e este bebê. A irritação sinaliza a necessidade de mudanças, neste sentido ela é positiva. Se ela não for acolhida, ela não deixa de existir. Ela insiste.

6) Tem tratamento? Quanto tempo dura?

Sim tem tratamento. Se a mulher puder encontrar espaço pra se expressar e dar sentido ao que vive e sente, ir compreendendo o que está implicado nesta sua experiência, ela sai da depressão. Durará o tempo da pessoa poder encontrar saídas próprias para sua vida, e encontrar vitalidade na própria experiência, lembrando o paralelo que fiz com o luto.

7) Neste grupo que você atende quais os casos mais frequentes de DPP?

Não são tão comuns quanto pode parecer. Infelizmente diagnosticam depressão muito mais do que se deveria. Ressalto que o grupo não é só para mulheres com depressão, ele é aberto a todas que vivem o pós parto, deprimidas ou não. Diria que a grande maioria da mulheres precisa de apoio neste momento de suas vidas.

Na minha experiência, tanto nos grupos quanto no consultório, o que vejo é que mulheres que viveram uma morte de alguém próximo antes ou depois do parto pode levar uma pessoa a uma depressão mais grave.
 
8) Você fundou este grupo por alguma estatística de mulheres que precisam de ajuda?

Não. Eu mesma vivi o pós-parto depois do nascimento do meu filho, e senti na pele que este é um momento difícil e delicado na vida de uma mulher. No meu contato com outras recém mães, percebi que abrir este espaço de troca entre mulheres na mesma situação ajuda muito a atravessar este momento de uma forma menos dura e mais criativa.

9) Qual a sua orientação para a mãe que está passando por este momento?

Primeiro, poder acolher o que sente como algo possível, e acreditar que todo este sofrimento tem um sentido, mesmo que este sentido não esteja claro. O que num primeiro momento pode lhe parecer inadequado, feio, louco não é mero acaso, defeito ou falha da mulher... e buscar ajuda se isto estiver muito difícil. O que eu acho bonito num acompanhamento terapêutico é isso: com o cuidado do outro, no caso o psicólogo, a mulher vai encontrar caminhos pra resgatar este sentido para sua vida que se perdeu. As saídas deste buraco vão se mostrar com o tempo, e com a compreensão. No final, é isso, a amorosidade e a compreensão é que restabelecem a esperança perdida, e dão condições para a nova mãe enxergar suas saídas.

Matéria revista GUIA DA MAMÃE editora casadois

Retranca: Pós Parto
Veículo: Guia da Mamãe
Edição: 2011
Texto: Karla Peralto
Fotos:

Título: Vai passar...

Olho: Após o parto, a mãe passa por adaptações e aprendizados nesta nova fase. É um processo de mudanças, mas temporário

A saída da maternidade com o bebê nos braços é a grande alegria das mães. Na verdade, uma sensação única para cada mulher. As variações hormonais que enfrentam durante e após a gravidez podem deixá-las mais frágeis e angustiadas. Os quilinhos a mais e a mudança nas formas corporais se transformam durante os nove meses e viram um “pesadelo” a ser vivenciado pelas mamães.
O primeiro passo é ter calma e não se desesperar. Afinal, é só seu corpo reagindo para voltar a ser como antes.

 (Intertítulo) A VOLTA DA BOA FORMA
Quero meu corpo de volta! Este é o principal foco após o parto. Gordurinhas localizadas, estrias, barriguinha saliente e flácida são algumas das preocupações das mulheres. Para o espelho voltar a reconhecê-la, é preciso disciplina, força de vontade e alimentação balanceada.
É normal as recém-mamães sentirem as mudanças que o corpo sofre em razão da alta atividade hormonal. As alterações não são apenas físicas, mas também de nível psicológico e todas elas se devem aos hormônios.
É preciso exercitar-se, mas como? Já que agora há um bebezinho em casa? “A dieta adequada e os exercícios físicos supervisionados por um professor de ginástica para obter melhores resultados é a melhor maneira de se chegar à satisfação”, comenta Eduardo de Souza, obstetra e professor da Universidade Federal Paulista (Unifesp).
Nas primeiras semanas, há vários tipos de atividades aeróbicas para selecionar após o parto. Se você não costumava praticar exercícios regularmente antes de engravidar, a caminhada é a melhor opção. Comece andando 20 minutos três vezes por semana e quando se sentir mais disposta aumente seu tempo.''Se este comportamento saudável permanecer durante a gestação e o pós-parto, rapidamente a mulher retornará a suas condições anteriores, mas aquela que se descuidou deverá buscar com mais empenho, no período pós-parto, a dieta mais adequada e os exercícios físicos supervisionados”, completa Souza. Quanto às dietas, ele declara que, durante o período pós-parto e principalmente durante a amamentação, a mulher deve ingerir bastante líquido, suco de frutas e adotar uma alimentação bastante variada, com carne, leite e seus derivados.
O obstetra e ginecologista Renato Kalil,membro da Federação Brasileira de Ginecologia, da American Academy Of Family Physicians destaca que, para se ter um bom retorno no pós-parto é essencial começar um bom pré-natal. “Se a mulher fez cesárea, não pode praticar exercícios pesados, mas o indicado é fazer 40 minutos de caminhada, com frequência cardíaca de 120 batimentos por minuto. Agora, se o parto foi normal, ela pode praticar todo tipo de exercícios, cuidar do corpo, cabelo e pele e assim voltar ao corpinho de antes”, justifica.
Segundo Kalil, se a gestante se cuidou desde o início, a recuperação é mais rápida. Não é incomum engordar após o parto. Isto depende muito da genética da paciente ou das características hereditárias. O máximo para se engordar em uma gestação é 9 a 11 kg. Com este peso, o resgate da boa forma torna-se mais fácil. Mas para isso, devem ser mantidas as seis refeições por dia com baixo teor de gordura e carboidratos, e priorizar as proteínas e fibras, balanceando de 1.200 a 1.400 calorias diárias”, orienta.
Ele explica que para se ter um corpo semelhante ao de antes de engravidar, o prazo para a volta a forma é três meses. Para que a cicatrização dos tecidos fiquem 100%, é preciso esperar seis meses.“Uma grande aliada na perda de peso é a amamentação. Além de ser saudável para o bebê e imunizá-lo de várias doenças, ajuda a recuperar a antiga forma. Neste momento, há perda calórica. Por isso, a mãe deve ingerir cerca de três litros de água por dia, ajudando assim a promover a diurese que naturalmente faz o corpo desinchar''.

RECUPERAÇÃO PÓS-PARTO
No parto normal, a recuperação da episiotomia (um pequeno corte entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê) dura algumas semanas e o corpo se encarrega de absorver os pontos. Na primeira semana sempre dói, mas é suportável. “Este procedimento não interfere na mobilização da mulher depois do parto. Fica dolorido de dois a três dias. Passado isso, a gestante se sente com mais liberdade de exercer as tarefas do dia a dia e a volta ao corpo de antes é mais rápida”, diz Kalil.
Já em cesareanas, a incisão é abdominal e a recuperação mais lenta; vai de quatro a seis semanas. Os pontos que não são absorvidos pelo organismo devem ser tirados em cinco dias após o parto. “A bolsa de gelo nestes casos é usada para aliviar a dor. O procedimento é feito três vezes ao dia durante 20 minutos. Isto evita e diminui o sangramento no local e não deixa cicatriz”, explica o médico da Federação.

MUDANÇAS HORMONAIS
QUEDA DE CABELO
As puérperas sofrem queda de cabelo nesse período. É quando, após o nascimento do bebê, todo o cabelo que não caiu durante a gravidez começa a cair. É comum você se assustar pensando que vai ficar careca, mas isso é perfeitamente normal. Eles cairão  no ralo, no chão, ao passar a escova, nas roupas porém, não é preciso entrar em pânico. Tudo passa, mesmo que demore um pouco. ”A queda brusca de hormônios femininos traz várias alterações no corpo da mulher, como a queda de cabelo. O indicado é tratar com vitaminas que fazem com que volte a crescer, usar xampu neutro, além disso, fazer tratamentos tópicos (medicação) e dermatológicos”, orienta Kalil.

CONTRAÇÕES
Após o parto, o útero continua a se contrair, uma necessidade do organismo para evitar o sangramento excessivo. Esse processo dá-se o nome de Globo de Segurança de Pinard, que consiste em uma contração fisiológica após a retirada da placenta e que acontece principalmente pela liberação hipofisária do hormônio ocitocina.“É comum a mãe sentir dores quando amamenta o bebê, já que a estimulação do mamilo faz com que o útero se contraia. A amamentação é fundamental para essa regressão, pois quando o bebê suga o seio materno é secretada uma substância chamada ocitocina, que além, de ser responsável pela ejeção do leite, atua contraindo o útero, reduzindo seu tamanho e o sangramento pós-parto ”,explica o obstetra.

LÓQUIOS
Durante o parto a mulher perde muito sangue, e continuará perdendo por alguns dias. Umas sangram mais outras menos. Este corrimento vaginal (lóquios) ocorre após o parto e leva aproximadamente dez dias para que o lugar onde a placenta esteve seja curado. Consiste numa secreção vermelha nos dois primeiros dias (parecido a uma menstruação forte). Depois diminui e fica marrom, passando por uma cor rosa e termina sendo esbranquiçada. Quando chegar a este ponto, você vai saber que o processo de recuperação do útero terminou. “Essa secreção ou dequitação inicia após dois a três dias após o parto e pode durar até três semanas”, ressalta o membro da Febrasgo.

DORES
Ainda nas mudanças hormonais surgem também dificuldades e ardências em urinar e dores nas genitais  em decorrência de dois fatores: a vasodilatação e o edema que fica após o nascimento do bebê.“ A uretra é sondada e, depois de retirada, ocasiona o ''trauma da sondagem''. Ao urinar dói, mas isso é normal devido ao corte. Nesta fase, há também uma queda abrupta de hormônios femininos: o líquido intravascular desce e causa ressecamento da mucosa vaginal, trazendo à tona esse incômodo. Para aliviar, basta colocar uma bolsa de gelo e usar um creme tópico indicado pelo obstetra”, alerta Kalil.
Em relação à postura, na gravidez, a mulher já sente dores na coluna devido ao peso da barriga, e muitas delas reclamam que se prolongam depois do parto. É a hiperlordose: “ algumas gestantes já têm uma postura errada antes de engravidar e depois pode piorar por causa do peso. Por isso, sempre orientamos a mãe a engordar no máximo 11 kg durante toda a gravidez. Dependendo do peso que é adquirido pela gestante, essa dor pode durar de 40 a 60 dias”, afirma Kalil.

A VOLTA DA MENSTRUAÇÃO
O fato de amamentar ou não é determinante para a volta do ciclo menstrual. Uma mulher é diferente da outra e a volta da menstruação depende de cada organismo e circunstância. “A mulher que amamenta regularmente, de três em três horas, tanto durante o dia quanto à noite, pode passar até seis meses para menstruar, ficar livre da TPM e dos absorventes. Isso, claro, depois do fim do sangramento normal pós-parto, que pode durar algumas semanas. Portanto, a amamentação está diretamente relacionada com o ciclo menstrual. Porém, às vezes, há mulheres que, mesmo amamentando, menstruam. Geralmente este fluxo é maior, mas sem motivo para uma hemorragia, resume o obstetra.

(Box) QUARENTENA
Nesta época, o útero volta aos poucos ao tamanho normal e a vida sexual do casal depende do procedimento feito pela parturiente no parto. No caso da mãe ter sofrido uma incisão no períneo, para a alargar a passagem do bebê, a cicatriz pode ser um obstáculo para a relação sexual.” Depende do procedimento cirúrgico. Se houve corte e sutura, demora cerca de oito semanas para cicatrizar. Agora, se o parto tiver sido normal, “o namoro” do casal pode começar logo”, finaliza Kalil.
No entanto, apesar de não menstruar, a ovulação ocorre normalmente. Nos 40 dias após o parto é necessária a abstinência sexual. Após, podem ser usados métodos contraceptivos, exceto os à base de estrogênio.

(Intertítulo) DEPRESSÃO
O bebê foi desejado e o quartinho foi decorado com amor e carinho pelos pais, com todo o conforto necessário para os primeiros anos de vida. Avós, tios, tias estão em estado de graça com o pequeno. Mas, toda a felicidade da mamãe pode se romper nos primeiros dias, com sensações e sentimentos confusos, que se manifestam através de tristeza, irritabilidade e sensação de incapacidade. É a depressão pós-parto batendo na porta.
Normalmente, as mulheres que a têm de forma mais aguda já tiveram um quadro parecido antes da gravidez ou a receberam hereditariamente.“O quadro deve ser tratado com antidepressivos acompanhado de um especialista. A incidência é de 20% e pode durar dois anos pós-parto. Já na mais leve, a taxa é baixa, de 10%. Na verdade, às vezes, a depressão pós-parto é confundida com pânico, quando a pessoa não pode ficar sozinha, tem medo de altura, elevador, mas não tem nada a ver com o parto”, esclarece Kalil.

A VISÃO DA ESPECIALISTA
No Grupo de Apoio Pós Parto, a psicóloga Cristina Toledano, de São Paulo, SP, orienta mulheres que estão passando por este período delicado.''A troca neste momento intenso e cheio de novidades, além de rica, é reconfortante; ajuda a apaziguar a solidão, as dúvidas, os medos e anseios tão comuns nessa época da vida”, comenta.
Os encontros são gratuitos e direcionados a mães que acabaram de vivenciar a chegada do bebê. Não é específico para a mulher com depressão pós parto, mas  aberto a todas que vivem o período. O objetivo é formar uma rede de mamães na mesma situação, que desejam passar suas experiências e aprofundar questões relativas ao assunto.''Os grupos de pós-parto ajudam muito, pois elas expressam seus sentimentos, desmistificam muitas verdades construídas a respeito de como devem ser mães e como são os bebês, propiciam a troca de dicas práticas que ajudam nos momentos difíceis e abrandam a solidão muito presente nessa hora. Os laços construídos entre elas, na maior parte das vezes, é tão forte que se formam amizades, turmas. É uma troca muito rica e amorosa”, declara.
Cristina acredita que a busca da ajuda de um terapeuta é válida. Com a terapia, a mulher vai encontrar caminhos para resgatar este sentido para sua vida que se perdeu. Muitas vezes ela não consegue dar este passo sozinha, e talvez precise da ajuda e do apoio de pessoas próximas. “As saídas vão se mostrar com o tempo e a compreensão. No final, a amorosidade e a assimilação é que restabelecem a esperança perdida e dão condições para a nova mãe enxergar as soluções'', conclui.

BABY BLUES
Ele afeta 80% das mulheres, nos primeiros 15 dias depois do parto. O nome se dá à irritabilidade emocional e ao choro que ocorrem na primeira semana após o nascimento do bebê. No livro “Bebê a Bordo – Curtindo uma gravidez a dois”, de Flávio Garcia de Oliveira, o Baby Blues é tratado como um momento transitório que tem um início súbito e rápido, em geral, de um a três dias após o parto.“É a primeira fase analisada por psiquiatras; um esgotamento físico e mental; uma insegurança por ter uma criança em casa que veio sem o manual. A mulher quer de volta, como um passe de mágica,  aquela barriguinha sarada, o bumbum levantadinho, o seio firme, mas, quando se olha no espelho, não é assim que funciona. O corpo tem um tempo normal, mas ela não se aceita e acha um ''lixo'', justifica Kalil.

VIVENDO O PÓS PARTO
Raiana Ribeiro, 23 anos, jornalista, vive este momento chamado “Baby Blues” e frequenta o grupo da psicóloga Cristina Toledano.“Procurei o grupo porque desde a gravidez queria saber tudo sobre o pós-parto. À medida que fui aprendendo, várias questões sentidas por mim ficaram mais claras quando compartilhadas com outras mulheres. No primeiro ano do bebê, a mulher vive muita solidão. O marido trabalha e você cuida do filho e acaba se isolando socialmente. Essa vivência do novo é muito particular e potencializada na introspecção com você mesma. É claro que bate a insegurança. Você pensa, será que é assim mesmo? A troca de experiências com outras mães nos faz analisar que ser mãe é a maior transformação que a mulher pode viver e vale muito a pena”, enfatiza.
A mãe de Caetano, de 1 ano e 3 meses, diz que o momento é complexo, nada fácil, mas de entrega e reflexão com ela mesma.“Ter um filho é conhecer o outro e a si mesma. É uma linda surpresa. Tudo muda e você mesma se modifica”, declara.